segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Confusão de sentimentos.

25/11/2008, sai da UFS ás 01h15min, com a esperança de chegar super cedo no Lions e não perder nada do último dia das reuniões lá neste ano de 2008.
Pela primeira vez consegui chegar antes de Marcus, e este por incrível que pareça chegou faltando pouco para as 14h,
Sentei com Thiago e fiquei ali, olhando para aquelas senhoras, todas arrumadas, usando brincos, batom, sandálias novas, colares, uma que me chamou muito a atenção foi dona Francisca, sempre tão simples, estava de colar, brincos, sandálias novas, saia diferente da habitual. Todas ali, com seus adereços simples e pouco perceptíveis àqueles que não convivem com elas, mas ao mesmo tempo tão significativos para elas, pois estavam em dia de festa, e tão curioso para mim, já que com minha ignorância esquece que elas ,também, são mulheres e como tais possuem sutilezas especiais para uma festa.
Porém, continuava ali, sentada, apenas olhando, as aparências, as fases, os gestos, não entendia o que se passava, ou melhor, não entendia o que sentia.
Dona Zefa como sempre cantava, cantava, sozinha, todo o restante permaneciam sentados, e àqueles que iam chegando, também iam se acomodando. Mas, não parecia um dia de festa, tava tudo muito quieto. Houve umas brincadeirinhas aqui, outra ali. Em certo momento, D. Zefa cantou uma música, a qual fazia alusão a homem que era mais mulher que homem, porém ela cantou perto de um velho, o qual virou pra ela disse; “E o que é isso?”. D. Zefa toda descontraída disse: “E ta se doendo?”, e continuou a cantar, só que dessa vez olhando diretamente para ele.
Quando Marcus chegou, foi logo começando a tocar e todos começaram a se animar e a se levantar. Uma mulher, que creio ser convidada de D. Helena, olhava com desdém e ria ironicamente, não sei por que, mas aquilo me incomodou tanto, ao ponto de focar meus olhos nos dela, para intimidá-la a não continuar com tal comportamento.
A família real foi chegando, o amigo secreto foi sendo organizado, e nós infelizmente, ficamos ser ter aonde sentarmos, dessa forma acabamos do lado dos leões. Entretanto, agora me pergunto, o porquê de termos parado lá. Falando por mim, no momento olhando para os idosos não me sentia fazendo parte do grupo, era a festa deles, talvez isso tenha influenciado para ter sentado no “altar”. Enfim, acabamos lá, porém nunca imaginei que o olhar de cima fosse tão amedrontador e humilhante, pelos comentários todos estávamos se sentindo muito mal ali. Parecia uma corte, os leões, ou melhor, os reis e as rainhas no seu altar, e os súditos servindo de bobos da corte, o momento em que estavam recompensando a família real, pelos benefícios prestados.
Fiquei chocada com a disputa de predominância pelo dragão, e pela família real, pois o dragão fazia questão que todos usassem as roupas, que havia mandando fazer, e pagado claro, já a realeza queria que seus súditos usassem as blusas do Lions. Parecia um duelo para mostrar quem fez mais benefícios.
Marcus não perderia a oportunidade de citar a Universidade, seu trabalho, a psicologia, então com nós de pé falou nossos nomes, nosso curso, e blá, blá, blá. Uma leoa nos agradeceu, o que me surpreendeu. Depois mudou seu foco para as idosas, agradecendo a uma senhora, a qual sem ela aquilo não existiria, D. Zefa que já estava de pé, já ia se aproximando, mas calma D. Zefa ainda não era a senhora, mas sim D. Joana, a mais velha, 94 anos, quanta vida... Enfim, chegou e Marcus agradeceu a nossa tão prestigiada artista D. Zefa.
As leoas abraçavam as senhoras, falavam com todos, mas a fronteira era bem definida.
Apesar da confusão da roupa, a apresentação Marcus saiu. Nós fomos ajudar a organizar, “Thiaguinho”, claro, foi nosso fotógrafo profissional, mas você Thiaguinho, é gente fina, só que dessa vez, eu também, recebe uma tarefinha, passava para Marcus qual era a ordem das músicas. E as velhas com seus vestidos quase iguais, os velhos com suas blusas iguais, dançando, cantando. Um episódio muito curioso aconteceu, no meio da apresentação, uma leoa entrou no meio dançando, parecendo não sei lá o quê, e Marcus lá sem entender nada, olhando como se fosse pular em cima dela.
Após o momento dançante, veio o lanche, depois que as leoas haviam distribuído bolo e refrigerante, Bruna e James distribuíam paezinhos de queijo que havíamos levado. Todos comeram inclusive nós. Depois seria o amigo secreto, e outras coisas, as quais não vimos, porque eu precisava ir para o mestrado, já que dia de terça trabalho à tarde.
No outro dia conversando com João e falando o que tinha acontecido, e minhas impressões, ele simplesmente me questionou: “E os idosos?”. Não soube o que responder e, aliás, ainda não sei, na verdade, nem sei o que senti, uma confusão, uma vontade de ir, e de ficar, os sentimentos se misturavam quando tinha alguma leoa por perto. Talvez, meus colegas tenham conseguido definir mais nitidamente seus sentimentos. E assim acrescentem...

5 comentários:

Brunitxa disse...

Também me senti mal em alguns momentos da festa. Não havia necessidade da apresentação, seria tão legal que aquele momento fosse apenas de descontração, e não de algo ensaiado e tal. Haveria necessidade de dar alguma demonstração do " que a gente faz aqui" como disse Marcus? Houve! Eu me senti uma professorinha do maternal apresentando seus alunos e observando a reação do público ante a apresentação. durante as observações me irritei com os risos exagerados de uma mulher na platéia
e percebi principalmente o desinteresse de alguns em participar da festividade. Outros acompanhavam com palmas as cantigas de D. Zefa deixando transparecer a vontade de fazer parte daquela dança.
Ahhhh! Uma coisa que está me incomodando é a nímia atenção por nós dada aos leões, estamos tornando-os uma lenda!! Não, eles são apenas um grupo de velhos imbuídos de um espírito voluntarista, crentes da idéia de que terão suas almas livres do fogo do inferno. Desejo de todos nós, pobres mortais.kkkk

Juaum disse...

Acho que a bruna falou algo legal aqui... pra mim que acompanho a pesquisa por aqui e em reuniões, por vezes parece que a atenção se fortalece muito sobre os "sufocamentos" dos velhos, acho sim que isso é bem importante, mas não é um "e só". Acho que as conversinhas que vcs tecem com eles tem algo de bem bonito pois mostram também o ar que eles respiram.

Aurea disse...

Concordo com vcs, que os leões são um aparet pequena, mas esse dia seria inevitável não falar deles, já também tivemos quase nenhum momento de conversa com idosos, a não ser um como vai ali, outro aki, como a senhro tá bonita, etc.
Bruna se empogou em?
Mas nem todos desejam se livrar do fogo do inferno, porque nem todos acreditam nele.

Brunitxa disse...

Como diz James, ó Céus!!!

J. Thiago disse...

Idosos infantilizados, leões desdentados, dragões políticos e estudantes que não sabem muito bem o que pensar ou sentir, julgar ou perceber. Que bom! Mesmo não enxergando nenhum traço de pureza nessa terra-dos-homens, não deveríamos temer as chamas de Dante. Sem uma estrela luminosa sobre nossas cabeças ou nenhum imperativo em nossos corações, o mármore infernal pode ser a nossa única luz no fim do túnel...