segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A Arte do Motor

VIRILIO, Paul. A arte do motor. São Paulo: Estação Liberdade, 1996.

Neste livro, Virilio fala sobre a relação homem - máquina, citando exemplos de como esse homem vai se envolvendo em uma relação de dependência para com os motores que cria. De como essas criações acabam adquirindo poderes em proporção muito maior do que a imaginada pelos criadores. De como os usos dados às suas técnicas e tecnologias vão modificando os comportamentos e organizações sociais e impulsionando o desenvolvimento de novas técnicas e tecnologias. Essa relação evolui a ponto de as máquinas expandirem seu campo de influência até, literalmente, às vísceras da humanidade.
O livro começa falando sobre o complexo dos meios de comunicação. Estes, vistos como uma espécie de quarto poder que dita leis, usos e costumes através das informações que geram. Um poder que, inicialmente, não tem inimigos visíveis, já que eles detêm o poder de transmissão de informação e formação da opinião pública e, é claro, não divulgam aquilo que seja contrário a eles próprios. Um poder isento de censura e controle democrático, pois sua força se encontra menos naquilo que mostram do que no que podem esconder. Mas que chega ao extremo de se ver prejudicado por suas próprias ações ao gerar uma descrença em sua objetividade.
Ao mesmo tempo em que, por um lado, usam e abusam do direito à omissão, por outro, os meios de comunicação se lançam, na era das transmissões instantâneas, numa campanha pela cobertura total dos fatos, sem se preocupar com as conseqüências. E quais seriam elas então? Pra começar, os mass media provocam um cerceamento dos direitos telespectadores sobre seu campo de ação imediato. Em outras palavras, a partir do momento em que esses meios de comunicação detêm os direitos e os poderes de irem de encontro aos acontecimentos e transmitirem as informações às pessoas impedem-nas de fazê-lo. Essa mediatização tem efeitos análogos aos da infantilização de crianças e loucos, contribuindo para a perda da autonomia e manutenção da dependência. Com isso, a nossa imagética mental, representações que construímos sobre o ambiente imediato, acabam se nivelando, perdendo relevo, pois se antes cada um construía essa imagética a partir de suas experiências pessoais e distintas, com a mediatização, os meios de comunicação é que agora produzem e transmitem essas imagéticas, e em escala industrial.
Os anseios de alcançar as informações onde quer que elas estejam e levá-las a todos os lugares promovem uma compressão das distâncias que vem acompanhada do status de infalibilidade atribuído à mídia, colocando esta no lugar que os gregos antigos destinavam aos deuses. As ambições da mídia crescem tanto quanto notoriedade e, não sendo mais suficiente informar sobre os acontecimentos, pretende-se também antecipá-los e até provocá-los, posto que os conceitos de falsidade e veracidade perdem importância diante da necessidade de que o mundo se desdobre em acontecimentos e mostre sua instabilidade.
Os meios de comunicação e suas tecnologias de transmissão, a exemplo dos jornais impressos, televisão, rádio e cinema, nos lançam numa confusão mental onde não há mais próximo ou distante e onde todos têm a ilusão de compartilhar do mesmo tempo. As tecnologias comprimem as dimensões do universo para que o olho possa ver além do seu alcance e a imprensa ataca tudo que se mantém, pois precisam de mudanças para informar novos acontecimentos.

Um comentário:

Kleber disse...

Arte assustadora, essa que os motores acionam. Arte da clausura. Como combater essa arte, se é que ainda é possível? Que acha? Abraço!