quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A chama do dragão!!

Apesar de realizar todos os esforços cabíveis para chegar à reunião antes de Marcos foi em vão. não consegui. Ao chegar lá estava ele começando com o aqueciemento, os exercícios corriqueiros. eu entrei, sentei-me, e fui também me exercitar.
As brincadeiras também naõ sairam da rotina. Porém nesta terça o grupo possuía uma face nova, aliás para mim 2, mas o grupo parecia que só um senhor que lá estava era estranho. Ele paricipou do aquecimento. Entretanto, ao começar as danças, ele se sentou e não participou, alhova de uma foram para aqueles velhos dançando, rindo, de uma forma que para mim parecia indecifrável. O outro senhor qeu também não conhecia participou de tudo, demonstrava muita disposição, além de estar vestido a caráter para exercício, este senhor parecia ser muito próximo do outro que não participou.
Fiquei ali olhando para Dona Joana e Doma Francisca, duas mulheres que demonstram serem tão diferentes. Dona Joana toda arrumada, Enquanto Dona Francisca toda simples, e às vezes até condena as atitudes da amiga. Porém sempre estão ali juntas, uma amizade que as diversidades parece só acrescentar.
O senhor que terça passada recebeu aguá na boca da esposa resolveu ficar em casa dormindo. Será que para ela ir até aquele grupo, possui o mesmo significado que para sua esposa?
E dona Sefa... Mais uma vez fez questão de frisar que sua alegria é tanto por fora, quanto por dentro... E que alegria... alegria que inspira, que alivia, que oferece forças...
Marcus pediu a Dona Sefa que escolhesse 4 pessoas pra dançar com ela, na tercira rodada e ela escolheu uma senhora, a qual havia levado a neta, quando aquela de levantou para dançar, sua neta a acompanhou, mas as outras senhoras não deixaram dissendo: é só sua vó.
Esta terça, o pessoal do Lions chegou muito cedo, o que impossibilitou de ficarmso mais tempo lá. Quando James perguntou a eles se haviam levado o poema, ninguém lembrou de levar. E alguns idosos vieram me perguntar o que era um poema.
BOm, após relatar o contato com os idosos, agora posso explicar o porquê da chama do dragão. Como o pessoal do lions chegaram mais cedo e já ficaram lá com os idosos, voltamos com Marcus. Ele entrou no carro e nós saímos do clube, ao chegar na porta ele já havi aligado o carro, e nós estávamos na porta, até que ele gritou: venham! E nós entramos no carro. ele perguntou-nos: pensou qeu iria deixar vocês? e assim completou: Eu não. Marcus Monteiro só tem um, eu sou único...
Adorei essa pérola, e como disse james: imagine se tivesse 2?

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Diário de um Bardo...

Primeiro, minhas sinceras desculpas. O meu computador - que possui mais personalidade que eu - não me deixava registrar, aqui, os meus (di) sabores. Meu acesso à internet estava, até agora, limitado pela vontade arbitrária da Placa-Mãe, arquetípica ou não. Então, numa Segunda-Feira à noite, aproveito o bom humor da minha Máquina, e consigo ter acesso aos nossos preciosos arquivos. Relato, agora, as minhas experiências de quase-uma-semana atrás. Eis a minha parte desta Terça...

Chego no Lyons. Sim! Começemos pelo começo, ao menos desta vez. A descrição de meus caminhamentos, literais ou não, já foram expressos em impressos anteriores (e interiores...). Focarei, neste escrito, os ocorridos na atividade e tão somente nela. Entro no clube antes das duas horas, marco sagrado para o início do ritual, mas uma conversa já estava sendo estruturada entre Marcos e os demais. Sim, os demais! Afinal, ele é que se sobressai nestes colóquios. Ouço sua lalação infinita - verdadeiro discurso ex catedra - enquanto noto os balançares de cabeça dos senhores, como uma ladainha litúrgica proferida diante do altar. Entre auto-elogios, egos inflados e megalomanias, percebo que o sumo sacerdote estava a falar de uma visita à praia, que ocorreria na Sexta, dia 24. Os velhos olhos vidravam com o passeio em potência (em ônibus da Universidade, vale salientar...), mas parece que a possibilidade pura não encontrou manifestação. Encontrando Marcos, no RESUN, Quinta, soube que o passeio estava adiado (Terças, Quintas, Sextas... partes e repartes demais...).

Voltemos. Depois da retórica nada gorgiana de nosso orador, começamos os rotineiros exercícios. Mas tentei um observar diferente. Tentei ver o que ainda não tinha visto, intrometer-me no que julgava não ser meu problema, dar importância ao que antes jogava fora. Vi o Reginaldo, menino de rugas todo franzino, receber - na boca! - um copo d´água das mãos de sua mulher. Ri com as peripécias do Seu Óto e os comentários da Cumadi Jô. Escutei, atento, as reclamações de Heloísa sobre o vestido encomendado para os eventos do grupo não possuir medidas cartesianas ao seu corpo. E, falando em corpo, embasbaquei-me com a nonidecenária Joana, tocando o chão sem dobrar os joelhos... Bem, após mais uma homilia sobre os benefícios da correta respiração, eu respiro. Suspiro. Inspiro e sou inspirado pelo que ocorre depois...

Entra em palco, cheio de atores e suas experiências, uma criança. Bela. Entre todos aqueles Serafins e Potestades, surge um querubim. Nasceu em mim, naquele agora, uma dualidade que quase me fez reminescer as idéias puras do Platão velho. Deixar o devaneio e a metáfora de lado seria o mesmo que mentir. O menino entra na roda, atravessa nossos corpos e vai até o canto do salão, buscar uma cadeira. Salta o degrau, alto demais para suas pretensões e, fechadas suas asas, fica a observar aquela realidade que não é a sua. Aquela distopia que, para ele, nunca virá-a-ser lugar comum. O menino pregou uma peça em mim, uma peça que eu não soube encenar naquele mágico teatro. E eu fiquei a vislubrar o mundo outro vivenciado por aquela criança. Olhos cansados mirando o infante. Olho vidrado fitando o além. Olhos querendo fechar e olho querendo se abrir para o que ainda não se é. Outros olhos...

sábado, 25 de outubro de 2008

Tricotando na feira

Do início da manhã anterior escrevo na manhã de hoje, sem a possibilidade de chuva a vista como aconteceu. Essa estação nos deixa sem saber como sair com esse chove-ou-não-chove, mas ainda assim a rotina não pára, a feira não pára e nem deixa de acontecer todas as sextas (com exceção nas eleições que foi numa quinta, lembro-me agora). Do mesmo jeito que tinha que continuar acordando mesmo quando até os sonhos nos pregam uma peça, que nem São Pedro quando resolve fazer chover quando se está sem guarda-chuva.
Como guardava resquícios de conversa da tarde anterior, que não foi comprida, mas suficiente pra me deixar sem voz, estava muito distraída sem notar direito a feira. Dei uma volta e sentei na praça. Sem perceber que estava envolvida, acompanhava os passos de dois homens que ainda arrumavam a banca com melancias, melões, abóboras e laranjas. Atrasados. Já quando toda a feira estava a postos, um ia buscar no carrinho-de-mão as frutas e verduras enquanto outro bem lentamente as arrumava da melhor maneira.
Em pouco tempo perco de vista o do carrinho-de-mão e o que arruma ainda lá como se o tempo pra ele não passasse. Arrumava as melancias de um jeito no chão, depois colocava umas em cima da outra, depois tirava... Nesse vai-e-vem de melancia o fiscal-todo-pompudo passa e diz pra ou usar a banca ou usar o chão porque estava no meio do caminho. O todo-pompudo não foi delicado e talvez nem fizesse questão de ser, e logo os olhares se voltaram para vê-lo falar. Nem sequer parou. Falando e andando.
Estava realmente tomando metade do estreito espaço de passagem e o homem-que-arrruma não se preocupava com isso ou nem prestou atenção que aquilo ali começava a engarrafar. Engarrafamento humano é engraçado, ainda bem que as pessoas não têm buzina e os obstáculos do caminho eram melancias e não buracos. Nem as reclamações do menino do carrinho-de-mão que se apertou pra passar nem o comentário maldoso do vendedor-ambulante-de-bebidas sobre o quanto estaria pagando pra deixar as coisas no meio do caminho fizeram efeito quanto o todo-pompudo. Afinal, ele tem uma camisa preta com um FISCAL enorme em letras grafais brancas.
Não faça feira de cabeça quente! Beba gelada! – grita o vendedor-ambulante-de-bebidas.
E se não tiver gelada? – grita uma voz de não-sei-onde.
Bebe uma quente!
Uma gelada! Esse aí é esperto viu. Uma gelada naquele calor até que não era mal, mas a minha viria à noite.
Saio dali pra ver o que vejo pela frente. Compro erva pra chá. Tropeço num tomate estragado. Esbarro numa pequena na frente. Desculpas. E sigo adiante. Á frente Zefinha e a mulher-das-bugingangas. Pergunto como está Zefinha que me diz que está bem, mas que se queimou com a água quente do caranguejo e me mostra o colo queimado. Diz que na sexta passada “o menino” (se referia a João) perguntou por mim e eu não voltei mais, quando disse que voltava. Logo dali vem a mulher das bugigangas dizendo que tinha pensando em mim agora e perguntou sobre o menino bonitinho do cabelo enrolado.
Chamo pra sair do sol e as duas vão sentar comigo. Conversa vai, conversa vem, o assunto sobre crochê aparece quando Naninha (é como se chama a outra) vem de lá com uma blusa e umas agulhas. Digo que aprendi a fazer essa semana e as duas desatam logo a falar que faziam de tudo! Zefinha disse mesmo que tinha um monte de linha que nunca tinha usado por pena, mas o ladrão roubou tudo. Pra usar por ela, possivelmente. Sei que foi um tricotar sem fim, mesmo o assunto sendo crochê e não tricô, já que as outras duas não sabiam fazer, só eu mesmo. Falo que queria aprender a fazer uma florzinha pra pôr no cabelo. E não é que a mulher me tira uma linha de não sei onde, parecendo gato Félix que tira tudo da bolsa, e começa a me ensinar como se faz.
Enquanto trabalhavam, eu aprendia a florzinha. Mas fui logo interrompida pela ameaça de São Pedro e me prontifiquei a ajudar Naninha nas pressas desarrumar tudo. Chuva! E das boas! Nos protegemos na banca da Zefinha e foi quando Naninha perguntou o que eu tanto fazia ali na feira toda sexta. Fui simples, a relutância em me identificar ainda está presente, e falei que era pra estudar como a feira funciona e que converso com as pessoas porque gosto. É uma pesquisa? Pesquise eu! Disse ela. Ri e levei as duas na risada comigo e não falei mais nada. Esperta essa!
Aproveitei a trégua da chuva pra ir para o ponto de ônibus. Despedi-me das duas com Zefinha me perguntando se vinha na próxima sexta e Naninha mandando levar mais linha pra me ensinar mais coisas. Explico que vou viajar e que só as vejo na outra sexta. O sol já vinha de lá pra esquentar tudo de novo. Acho graça dessa estação que não sabe o que quer e como me identifiquei na hora com isso. Entro no ônibus rindo sozinha de canto de boca. Bom dia!
Foi disso que me fiz essa sexta.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Cidade e Campo

Segui Marco Polo, o viajante veneziano, por alguns poucos quilômetros até chegarmos à Contemporânea, cidade do atual. Sob o sol escaldante procuramos um lugar para comer e dormir; bastava-nos isso, aquilo que é fundamental ao corpo, o simples e básico. Porém, encontramos suntuosos hotéis sem cama, onde havia festa o dia inteiro e ninguém dormia ou se alimentava. Buscamos em grande parte, mas vencidos pelo cansaço, alojamo-nos numa praça ao anoitecer.

A cidade não parava, mergulhada em seu movimento não éramos notados pelos olhos que saltavam sobre nós; indiferentes cada hora que passava pareciam ainda mais distante. Então, como que em balbucios, Polo diz: - Das cidades que visitei, Contemporânea é a que se distancia mais depressa, são estes seus signos, esta é sua simbologia. Pensei sobre aquela frase com cuidado até que minhas ultimas forças sumissem. Guardei-a comigo.

Pela manhã acordamos em meio à movimentação frenética. Era uma feira! Será que Contemporânea havia se distanciado em demasia durante a noite abrindo um buraco no espaço e tempo onde havíamos caído sem nem ao menos perceber? Caminhamos abobalhados com tamanho paradoxo entre as imagens e as sensações do atual e da noite anterior, quando a cidade ficava mais e mais distante. Eis que vimos um velho senhor sentado em um banco com seu violão contando versos para algumas crianças, logo, paramos para atentar.

As palavras musicadas diziam sobre História, uma cidade mais antiga que Contemporânea e bastante diferente. História era uma cidade de proximidades, nada além de dois quilômetros de distância, todos se sentiam visinhos, a vida se dava nos arredores. Sua arquitetura e urbanismo falavam de relações das pessoas que a habitavam, ruas estreitas, pequenas casas variadas de um só cômodo, separação pouco nítida entre o público e o privado – talvez até mesmo desconhecida. A cidade era o símbolo do encontro, aonde as pessoas iam para trocar, a cidade era o símbolo dos símbolos. Porém, ainda não distante daquilo que garantia sua condição de ser vivo: o campo.

Não entendi ao certo se o velho disse que Contemporânea apareceu da palavra distante, ou se tudo se deu ao contrário, quando apareceu Contemporânea fundou-se a palavra distante. No entanto, a relação entre História e Contemporânea era conflituosa, pouco a pouco a primeira, submetida à força da segunda, viu suas práticas e símbolos desaparecerem ou serem capturados. Contemporânea substituiu gradualmente o conjunto simbólico que era característico de História, implementando práticas e símbolos do distanciamento: enquanto História tinha ruelas estreitas, o que tornava as pessoas mais próximas, Contemporânea alarga suas ruas, distancia suas margens de passantes menos abastados permitindo o fluxo de veículos abastados transitar rapidamente, por exemplo. As duas dizem de modos de subjetivação diferentes, o que significa que nem uma, nem outra devem ser naturalizadas, porém circunstanciais.

A feira acabou, e o que a substituiu foi um fluxo louco de carros e gentes indo nas mais diversas direções sem dar nó, era Contemporânea que não havia sumido apenas distanciado. Marco Polo sugeriu irmos à próxima cidade, pois estas são feitas de folhas, flores e frutos, quase nada têm de raiz. Disse-lhe que é preciso demorar-se e ver nas fissuras as cidades invisíveis dentro da cidade.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Quintana para ruminar...

Do Mal da Velhice
Chega a velhice um dia... E a gente ainda pensa
Que vive... E adora ainda mais a vida!
Como o enfermo que em vez de dar combate à doença
Busca torná-la ainda mais comprida...


Das Corcundas
As costas de Polichinelo arrasas
Só porque fogem das comuns medidas?
Olha! Quem sabe não serão as asas
De um anjo, sob as vestes escondidas...

O Velho do Espelho
Por acaso, surpreendo-me no espelho: quem é esse

Que me olha e é tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus, Meu Deus...Parece
Meu velho pai - que já morreu!
Como pude ficarmos assim?
Nosso olhar - duro - interroga:
"O que fizeste de mim?!"
Eu, Pai?! Tu é que me invadiste,
Lentamente, ruga a ruga...Que importa? Eu sou, ainda,
Aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra.
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!-
Vi sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste...

Recordo ainda
Recordo ainda... e nada mais me importa...

Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Dois ditos

Bruna diz:

Neste dia, 10/10 enquanto me dirigia à feira decidi que a minha prioridade seria conversar com os feirantes. Assim que cheguei me deparei com uma senhora que vendia panos e perguntei por onde começava a feira, ela disse: “Começa daqui!”( do lado da caixa de água) agradeci e segui em frente.
Enquanto caminhava por entre as barracas em um dia pouco movimentado, pois era um dia de chuva resolvi parar e conversar com dois senhores que vendiam bugigangas. Assim que me aproximei deles me identifiquei como estudante de psicologia que estava ali fazendo um trabalho. Posso dizer que da conversa sairam coisas bem interessantes como, por exemplo, um deles me disse que a feira não tem como deixar de existir senão aquele povo todo não teria em que trabalhar, disse também que supermercado é coisa para rico que quer tudo empacotadinho e mais caro., que com eles é diferente, se o que eles vendem tem um preço quando o comprador pede eles dão um jeitinho e fazem por um preço mais barato.
Adiante, já na parte central da feira, parei para conversar com outra vendedora, perguntei a ela por onde começava a feira. Ela disse que para ela começava do lado da avenida (lado oposto ao que a primeira vendedora me respondeu). Mesmo já tendo para si sua definição de início e fim ela me disse que na realidade tanto fazia, podia ser de um lado ou do outro.
O que posso dizer é que com essa minha última visita me senti diferente das outras vezes. Não me sentii como uma estranha dentro de um grupo mas alguém que estava começando a sentir e interagir com tudo aquilo que estava a sua volta.

João diz:

Por volta de 8:30 cheguei para mais um dia de feira, na já conhecida rua, porém não menos causadora de estranhamentos. Conhecida sim, enquanto seus entornos geográficos e algumas de suas caras, suas regularidades que configuram um cotidiano matutino da sexta-feira, no entanto aberta ao acaso. Parei o carro onde parei na semana passada, na rua em frente à sorveteria separada da avenida de grande movimentação. Desta vez, como da outra, dois garotos me abordaram oferecendo uma olhada no carro, um deles disse para o outro – esse é meu porque tomei conta dele na semana passada. Desci do carro rindo e perguntei – lembra de mim, rapaz? – lembro sim, meu patrão... Teci uma rápida conversa com ele enquanto andava pela rua perguntando se eles decidiam a respeito dos carros sempre assim, se eles ficavam sempre por ali e se conheciam os outros garotos que tomavam conta dos carros no outro lado da rua, ao que ele respondeu dizendo que quando um carro chegava por ali, era de quem falasse primeiro, e que ficavam sim sempre daquele lado e não conheciam o pessoal do outro lado não.
Ao entrar na feira, vejo Mairla sentada nas escadas da sorveteria atrás duma banca conversando com um senhor e uma senhora, finjo não perceber e ando um pouco mais para frente, mas a curiosidade é grande e resolvo voltar. Sento também ao lado e parecem bem entrosados e animados na conversa. O senhor, Seu Joselito se não me engano, é bastante receptivo. Me informo do que mairla já havia feito até o momento e me sinto um tanto deslocado frente a relação e as conversas em formação ali, lembro então que precisava procurar limões. Daí, saio andando tranqüilo por entre as barracas em busca de limão, mas os poucos que encontro estavam muito miúdos, noto que também as tangerinas de cor laranja vivo e casca engraçada estão em falta. Ando mais até a praça dos banheiros químicos, estavam lá e eram três, de portas fechadas, não sei se em uso ou trancados por outros motivos. Os bares abrem suas portas bem cedo (a checar se somente às sextas), e sempre tem gente bebendo, isso me chama bastante atenção, por ser uma cena para mim bonita. Andando vejo alguns fiscais entregando tickets aos feirantes em troca de uma quantidade em dinheiro. Volto para a banca da frente onde estavam conversando mairla e o seu joselito.
Minha participação na conversa começa ainda afrouxada, parece que precisei ligar algo ainda desligado da sociabilidade, no entanto, após certo tempo, produzimos um bom diálogo. Falamos não só da feira, mas também de seus filhos e seu modo de criação bastante solto, como dizia ele: não adianta a pessoa estudar uma coisa e não gostar, forçar o cara entrar na faculdade e trabalhar pra ganhar dinheiro... cada um tem um dom e sabe pra o que nasceu. Contou então de uma filha que também trabalhava lá com a esposa e que até hoje perguntam o porquê dela não ir mais à feira do castelo branco. Isso porque ela tinha a ginga, tinha a manha que se deve ter para vender na feira, coisa que ele próprio não tem, disse, e por isso ninguém parava na barraca – no momento a esposa tinha ido falar com uma prima que também trabalhava na feira o que demorou um bocado até -, de fato o movimento não foi intenso enquanto eu estive conversando com ele. Disse ainda que trabalha como eletricista em uma empresa, mas não tava afim de ir trabalhar, daí pediu dispensa e foi ajudar a mulher na feira naquele dia – ele havia levado as mercadorias de carro, mas geralmente ela ia de ônibus, em um ônibus especial onde as pessoas entulhavam de coisas para vender na feira. Perguntei se era ele mesmo que plantava o que ele vendia e disse que só o limão não havia sido plantado por ele e que todos os outros produtos foram retirados do próprio sítio, então conversamos sobre isso e ele me afirmou que a maioria das pessoas que vendem na feira não planta mais, elas simplesmente compram no Ceasa para revender nas feiras. Retomando o assunto do limão perguntei se estava em falta, ele disse que sim, que cada coisa tem sem tempo e que as pessoas não sabem respeitar esse tempo, que na entre safra ficam caros e desaparecem quase que por completo da feira. Também perguntei sobre a disposição das mesas, ao que ele me falou que cada feirante pagava por volta de oito reais por feira, uma parte à prefeitura pelo “aluguel do chão” e outra parte à empresa que disponibiliza as armações em ferro, falou também que cada feirante tem direito a faltar três dias e após o prazo as bancas vagas são remanejadas para outras pessoas. Presenciei pela primeira vez a cobrança do valor que cada um deveria pagar, primeiro veio fiscal da prefeitura e cobrou dois reais de seu joselito, pois este usava além do espaço da banca o chão com alguns produtos, um real para cada espaço, depois veio o fiscal das bancas e cobrou sete reais pela utilização da armação.
Conversa vai conversa vem, a esposa de seu joselito, dona finha, voltou com uma garrafa de água que fora comprada em algum dos bares. Não me ofereceram, pelo contrário puseram água em um copo e me deram, dividiram a água entre as pessoas mais chegadas ali, outros vendedores, alguns garotos do carrego de mercadorias e os dois meninos que estavam tomando conta do meu carro. Havia pão também em cima da banca, para consumo próprio, e dona finha também trouxera alguns pedaços de requeijão. Um dos meninos do carrego saiu em direção à mercearia do outro lado da avenida e voltou com uma coca-cola. Pronto, aquele foi o lanche de algumas pessoas que estavam ali, cada qual com seu pedaço de pão com requeijão e um copo de refrigerante, os meninos que tomavam conta do meu carro também comeram, dessa vez me ofereceram, mas não aceitei. Então começou a chover.
Uma cena que ainda não tinha visto na feira aconteceu, a chuva era forte e a feira parou. Todos muito junto desprevenidos procurando proteger-se da água que caía forte, feirantes, carregadores, consumidores, meninos dos carros, todos apinhados embaixo das frágeis lonas que cobriam as armações de ferro. Os corredores da feira esvaziados e os corpos movendo-se sutilmente em busca da melhor proteção. Algo havia fraturado os movimentos da feira. No entanto, após o “dilúvio” veio o burburinho, foi a chuva dando trégua e as pessoas retornando aos movimentos e afazeres. Aproveitei o momento para andar novamente por trás das barracas, despedi-me de seu joselito e voltei a andar pelos quintais da feira. Muita água empoçada, lama, restos “ruins” das mercadorias jogadas atrás das bancas, escamas, ossos, alguns cabos de máquinas elétricas utilizadas pelos feirantes estendidos no chão por entre o lixo e a lama, vários baldes de água com múltiplas utilidades – desde lavar pratos até reservatório de facas -, alguns cães devorando os restos de carnes que haviam caído anteriormente e a cara de estranhamento de alguns poucos feirantes que percebiam meu trajeto não natural de comprador. Andando, vi um esgoto que borbulhava entupido, transbordando água que corria para o outro lado da rua, por trás das bancas carregando mais dejetos e entupindo outras entradas. Após a chuva, o cheiro de lixo fortalece, mas mesmo assim não é motivo para interromper a feira que parece não se incomodar. Volto ao trajeto normal pelo corredor entre as barracas e vou andando em direção ao carro. Os garotos prontificam-se a me ajudar a sair da rua e recebem cada um um real, e eu recebo um “até sexta que vem”.

Como por o tempo a nosso favor

O vento tem mania em querer anunciar o tempo. O vento muitas vezes confunde tempo e clima. Por certo o vento não se aplicou nas aulas de geografia, mas como não havia muito vento na tarde de terça-feira, dia 14/10/08...
Estávamos eu, Áurea, Lázaro e Thiago sentados no Lodinho no meio da tarde. Conversávamos sobre o que havia acontecido, alguns instantes antes: nossa participação na atividades de grupo de 3ª idade no Lions Club.
Chegamos juntos ao Club. A música já era entoada. Marcus batucando e uma senhora-pássado bradando sua melodia pelo galpão. Pararam para receber e conhecer o professor Kleber, que chegava ali para trazer a Psicologia para a rotina daquela atividade. Era assim que o Marcus, o professor Marcus, apresentava seu colega de trabalho. Havia também os estudantes: Thiago, Lázaro e Áurea.
Abraços e apertos de mão. A energia em acolher foi das melhores. A simpatia espontânea dos velhinhos fazia sucumbir o tom que os rituais de recebimento proclamam. O contágio era alimentado por uma disposição de bem-querer. O professor Kleber se pôs no muro e preferiu deixar acertos semântico-institucionais para depois, junto ao professor Marcus. Talvez por desconfiar que conversa entre dragões, muitas vezes é regada a fogo. A tarde já era mordacenta e não requeria calores outros além daquilo que se transfigurava numa humanidade despretensiosa dos velhinhos.
Iniciaram-se as atividades fim. Formação de uma roda, alongamentos e exercícios. Marcus puxava a musculatura do grupo, preparando-o para as danças que se seguiriam. Alongamento; essa é uma palavra importante. Tão importante que interrompe a descrição e leva essas linhas para fora desse tempo. Essa é uma palavra que pode mover as lógicas fisio e psico num aprendizado junto ao grupo dos velhinhos.
Marcus alonga-os para que cantem e dancem dispostos e também para que seus corpos não se lastimem quando o sangue esfriar e já estejam em casa, talvez desacompanhados. Velhos de até 94 anos. Velhos já bastante alongados por experiências de dificuldade que parecem guardar em comum. As suas fisio-nomias denunciam essa condição.
Já as sua psico-logias alongam-se noutra órbita. Difícil uma representação que se adéqüe rapidamente a um sentido que se faça verdade neles e não naquele que lhes quer interpretar. A psicologia, através de um professor e três alunos, precisa de mais tempo para lidar com essa condição.
Estranho que quando se precisa de mais tempo, ele se escasseia mais rapidamente. Os minutos passam como se fossem segundos. Não é simples efetuar traduções quando se trabalha contra o relógio. Daí a possibilidade de trabalhar com o tempo a nosso favor, que se deve problematizar.
Sou estagiário nessa matéria, mas o que creio ter aprendido, vou repartir aqui. Até para saber se esse é um saber que valha a pena.
Érico Veríssimo construiu linda obra articulando O tempo e o vento. Nessa obra, lembro de Um certo capitão Rodrigo. Homem de batalhas e sem tempo para o re-pouso. Homem que não acreditava em ventos que sopravam em uma única direção e tinham a pretensão de anunciar o tempo por viver.
_ Se tem governo, sou contra!
Ele era contra o instituído e centralizado, mas não fugia das batalhas.
A psicolofia-ufs não sabe ainda o que é governo instituído e centralizado no galpão do Lions.
Precisamos batalhar para saber do governo instituído e do governo de si (ascese) do que ali se faz. Precisamos soprar quando não há vento e algumas vezes fincar os pés no chão quando este quer carregar aquilo que não podemos perder.
Não é fácil ou simples, mas precisamos aprender a aprender as pessoas. Elas se movem, por isso é tão difícil. Entretanto, com o tempo a nosso favor...
Foi isso que aprendi!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Complemento do diário - 7/09/2008

Um senhor do Lions que lá estava, começou a observar os teste que Marcus estava fazendo, depois pedui para fazer, fizeram e ele continuou ali. Em um momento uma senhora estava nervosa, (aliás todos pareciam nervosos, pois estavam sendo testados por uma pessoa que não demostrava paciência, e a qual estava com um cronômetro em mãos) e este senhor do Lions nada cavalheiro ficou do lado da senhora, repetindo por diversas vezes que ela não iria conseguir... Ela mais nervosa ainda, nos perguntava o porquê não conseguia... O marcus com sua "paciêcnia" acabou o teste de equilíbrio com ela e foi fazer o de flexibilidade, o qual consistia em levar a mão até aonde conseguisse nas costas. Após esse episódio a senhora passou o restante da reunião calada e apática... Por que tal reação dessa senhora?

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Diário - 7/10/2008

Hoje 7/10/2008, eu e Thiago nos encontramos por acaso no terminal do campus, pois estava chovendo muito. Esperamos, por fim quando a chuva passou fomos até o encontro com os idosos. No caminho encontramos com duas senhoras que fazem parte do grupo, as quais nos receberam muito bem, dona Joana com seus 94 anos, e dona Francisca, a primeira reclamava que estava molhada, porque dona Francisca mandou chamar ela, já esta reclamava que dona Joana não tem nada pra fazer, só fica em casa e ainda reclama. Seguindo para o clube, nos deparamos com muita lama, grandes poças de água, e dona Joana brincava dizendo que só quem não tem o que fazer pra sair de casa e ter que passar por um lugar daqueles.
Quando chegamos, o Marcus já estava e também uma senhora e um senhor do outro grupo que também trabalha com aqueles idosos. Tinham poucos idosos, provavelmente devido à chuva. Marcus e um estudante de educação física que também está frequentando os encontros estavam fazendo um teste de equilíbrio e de flexibilidade com os idosos, isso porque o estudante de educação física vai usar esses dados em sua monografia, pois eles querem observar se a dança os exercícios que eles fazem, melhora a qualidade de vida dos idosos. Depois de fazer os testes com os poucos idosos que se encontravam, Marcus deixou bem claro que iria usar os resultados para publicar artigos científicos. Como hoje não houve música, nem dança, formou-se uma roda de conversa. Marcus perguntou os outros dois que também lá estavam se eles já haviam levado os idosos pra visitar asilos, pois para ele é importante, porque assim os idosos vêem como é triste e assim não permitirão que seus filhos os levem. As senhoras que lá estavam diziam que elas que mandam em suas casas. Nesse meio tempo, eu conversava com uma senhora a qual estava do meu lado, ela dizendo que as filhas não gostam que ela saia com as amigas, só querem que ela saia com elas e com as netas, e ela até brincou: “vou sair com elas pra quê? Pra ficar de vela?” “eu quero é sair com minhas amigas, gente da minha idade”. Essas falas me lembraram o que dona Helena falou no primeiro encontro, que ela gosta de morar sozinha, chega à hora que quer, faz o quer, tem liberdade. E James conversava com um senhor, mas vou te pedir desculpas James, não lembro o que foi que o senhor te falou, acrescente, por favor.
Marcus foi falar aos outros dois que estavam lá, que está levando os idosos pra UFS, e mais uma vez falou da Psicologia que já está também com o grupo. Por mais uma vez perguntou por Kléber, e até sobre nossa metodologia ele falou, que não ver a gente anotar nada, nem conversar com os idosos, e nós falamos que fazíamos nossas anotações juntos depois, que no momento estávamos conhecendo aos poucos o grupo.
Bom, assim acabou nosso encontro...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Diario de campo 30/09 (na falta de um titulo melhor)



Até onde vai minha pouca experiência, acredito que escrever um diário pressupõe certa continuidade dos relatos. Um texto servindo ao seguinte como ponto de apoio, uma experiência servindo a outra exatamente como experiência.. Mas, como debutante de pesquisador, também me vejo tentado a arriscar-me no exercício da autonomia. Não se trata de abandonar uma via que parece mais ou menos pavimentada (como bem atestam as postagens de Tiago), trata-se, antes, de alargar tal via: buscar dentro dela outros caminhos, assumir riscos, exortar Dragões e enterrar fantasmas.
Foi com esse pensamento que decidi na terça-feira, dia 30/09, ir ao Lions Club Serigy para mais uma das reuniões do grupo de idosos a pé, desprezando a carona do professor Marcos Monteiro. Aliás, quero crer que essa será a única vez que farei menção a ele, afinal, não é seu trabalho, arrogância ou frustração acadêmica que nos interessa...
O fiz em parte também porque tenho a leve impressão que, mesmo interessado em estudar os motivos subjacentes que levam tais idosos a se reunirem, não podemos deixar de atestar o fato de esse senhores e senhoras só poderem ser referidos se considerados como atores e agentes da realidade daquele lugar.
Bom, enquanto torrava sob o sol escaldantes e prendia a respiração para afastar a ojeriza que me causavam os esgotos a céu aberto do Rosa Elze, tentava conceber outros modos de enxergar o grupo de idosos. Resolvi que talvez fosse uma possibilidade chegar ao encontro um pouco antes e observá-los “fora” do ambiente festivo que a reunião sempre assumia.
Em muito ajudado pela necessidade de ver-me seguro, apertei o passo e consegui chegar vinte minutos antes do horário previsto para o início das atividades. Mas, diferente daquilo que imaginava, o inicio da reunião não obedece (pelo menos para os idosos) a convenções ou horários fixos. Lá estavam 11 senhores e senhoras dançando e entoando canções do samba de coco. E eu que pensava ter chegado cedo... De verdade, isso não me causou tristeza, aguçou a pontinha de inveja curiosa que tenho em relação a esta gente.
Minha presença foi notada, mas não notabilizada. Lembrei-me, com uma ponta de decepção egoísta, da afirmação de Kleber de não sermos importantes para o grupo: eu estar ali 13: 40 ou depois das duas parecia não fazer a menor diferença. Os idosos não dançam pra mim ou para o Lions. Para quem dançam?
Quase trinta integrantes já haviam chegado e as atividades prosseguiram animadas como de costume. Fiquei algum tempo sentado, na esperança de ser chamado por alguém para a dança. Isso só reforçou minha constatação da pouca importância que minha presença tem para o grupo. Não é ter ou não um par na dança, assim como não é a música que os fazem freqüentar as reuniões. De novo, a interrogação ficou em suspenso: então, o que os motivam?
No embalo do bolero que rolava no som, levantei-me e apenas com um olhar convidei dona Helena (viúva, que mora sozinha por opção, numa casa alugada por opção) para dançar. Depois do animado bolero, ela vira-se pra mim e diz “Ai, meus tempos de nova”!. Enquanto me afasto fico pensando na frase e quase não presto atenção em Áurea elogiando a desenvoltura da idosa. À parte a grande habilidade de dançarina de Dona Helena, até agora não sei o que ela quis dizer, embora me incline a acreditar que ela se referia aos bailes de outros tempos. Nostalgia ou decepção? Não pude perguntar.
Enquanto tirava as fotos sem sequer ser percebido(L), prestava atenção aos idosos que não podiam/queriam participar das atividades. Lógica curiosa essa: andar sobre um sol de escaldar, para ficar sentado durante uma hora, apenas assistindo. Fiquei com vontade de perguntar se eles se divertiam estando ali, mas não podia.
Fiquei ainda um pouquinho assistindo as atividades desenvolvidas pela direção do Lions, esperando encontrar não sabia o quê. De repente, tomei noção de que já havia encontrado aquilo que nem sabia que procurava. Cheguei com a pretensão de achar respostas, sai com ainda mais perguntas. O que me fez ver isso? Uns versinhos declamados por dona Zefa, de noventa e quatro anos:
“Quando eu lhe tinha, apartei
No riacho da alegria.
Quando choravam meus olhos,
O riacho corria.”
Decidi ir embora, mas antes de sair fui lá pertinho dela e pedi pra ela declamar novamente, enquanto copiava. Ela riu com desdém e falou pausadamente. Agradeci, dei-lhe um beijo e sai. Guardei a folha. Quero ver se aprendo.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

estudo de caso 5

Sete e quinze ou vinte, mais ou menos, da manhã e meu dilema começa: estacionar o carro. É um tráfego um tanto conturbante, pelo menos pra mim, toda aquela região em volta da feira. Eu estava exatamente na avenida que desce para a Rio de Janeiro, pois tinha descido a rua lateral ao Macro e esperava encontrar alguma vaga por ali na frente da caixa d’água.

Fui dirigindo devagarinho e prestando atenção em algum daqueles meninos que guardam o carro para ver se me notavam. Que nada! Presencio é uma briga entre dois, não sei por qual motivo, só vi a faca na mão de um ameaçar cortar o pescoço do outro. De longe um rapaz viu tudo e foi na direção pra tentar apartar a confusão. Não sei se conhecia os meninos, mas me pareceu um dos consumidores da feira. Só o vi pegando na faca do moleque e mandando abaixar... Não vi como se deu o fim da história, pois não podia continuar atrapalhando o trânsito. Resolvo estacionar no GBarbosa mesmo.

Entrei pela lateral da caixa d’água para olhar o movimento da barraca de pastel que já estava intenso. Não parei. Continuei o caminho indo por trás das bancas por onde tem umas que vendem roupa e paro na praça que tem aquela lanchonete que distribui a comida pra feira e que as pessoas podem usar o banheiro também. Logo quando estou chegando escuto um monte de gente rindo e a mulher da banca dos temperos que fica ao lado de uma série de cinco bancas de carne gritando: “Ihhh, Seu Chico! Tá tão fraco assim é? Toma vitamina A que é bom pra levantar”. E todos riam muito e a que deduzi logo ser a mulher do dito Seu Chico falava: “Ahh minha filha, ontem de noite me deixou foi sozinha na cama. Num queria era nada. Virou e foi dormir. Por isso tô assim hoje!”. Eu comecei a rir e esperar a defesa do tal homem que não satisfez a mulher na noite passada, mas só escuto todos por ali fazendo graça.

Em um instante toda a brincadeira pára e todos voltam a gritar para vim seus fregueses. Sai por um tempo dali pra olhar onde ficavam os banheiros químicos itinerantes, mas já com a pretensão de voltar depois. Estavam fechados e o cheiro não era dos melhores. Não quis ficar ali e fui comer meu pastel com caldo de cana lá da banca do início.

Pedi e fiquei por ali mesmo comendo bem devagar. Percebi que tinham três lixeiros pequenos em volta de toda a barraca, mas algumas pessoas continuam jogando o guardanapo e o copo do caldo no chão mesmo. Algumas se atentavam a procurar o lixo e se deparavam com ele transbordando. Já dentro da banca, onde ficam cinco funcionários, contando com o que frita os pastéis, não tem lixeiro algum e é um amontoado de papel jogado no chão. Não sei se o vento que leva os de fora pra dentro ou eles mesmos que jogam. Acho que há uma contribuição de cada lado mesmo.

Como já havia terminado de comer e visto o que queria, voltei pro banquinho da praça que tinha sentado anteriormente. Em comparação com o pessoal das frutas e legumes, eles são mais tranqüilos. Não ficam gritando o tempo todo e parecem se preocupar mais em abanar as moscas com um pano todo sujo de sangue. É um trabalho tão incessante de espantar as moscas que acredito que têm horas que nem ligam mais, porque é só parar de sacudir o pano que elas voltam novamente.

Fixei minha atenção em cinco bancas de carne e uma mulher dos temperos. Sendo que umas das bancas da carne era uma mulher. No decorrer do chegar-sair de pessoas pra comprar carne, reparo que eles usam a mesma balança como que num ritual normal deles mesmos, parecendo um combinado. As pessoas chegavam à banca e ficavam olhando aquelas carnes penduradas em ganchos que pareciam roupas à mostra para serem compradas. Observo os passos de um senhor bem disposto e animado escolher a que melhor lhe agradava, dizer a quantidade que queria e começar a falar o prato que iria fazer em casa naquele dia. Deixa o homem lá terminando seu serviço e vai pra banca da mulher comprar um rim (não tenho certeza, mas fiz consulta aqui em casa descrevendo o que era e foi o que me disseram!). Enquanto a mulher tratava o rim (?), já tava na banca do lado comprando umas tripas com o barrigudinho que só ficava sentado batucando o sertanejo que vinha do som da lanchonete da praça. Alguns minutos depois o freguês faz o caminho todo voltando, pegando e pagando o que consumia e dando adeus em conjunto pra todos.

O movimento na banca das carnes não é muito agitado. Mas reparei que quando alguém pára pra comprar fica bem uns cinco minutos e paga com uma nota de dez reais que às vezes nem volta troco. Em um intervalo tranqüilo desses fico reparando a mulher da carne. Ela é bonita, mas tem uma expressão muito séria e parece não se importar muito com o cheiro ou o insosso da carne. Ela muito calmamente pega no pano sujo e limpa a banca levantando as carnes, depois o espreme em um galão azul enorme de água, abana as moscas, guarda o pano por debaixo de um pedaço de carne, pega nos cabelos pretos para ajeitá-los, se volta pra trás para pegar um tamborete de madeira que segurava um pedaço enorme de carne, o coloca na banca e puxa pra sentar, senta-se em um líquido vermelho que escorre do tamborete e nem se importa em sujar a calça, depois sente o celular tocando e o pega para atender a ligação.

A essa altura eu já havia sido notada por ali, mas ninguém parecia se importar se eu os estava observando ou não. Na verdade, não sei nem se notavam. E por ali fiquei uns vinte e cinco minutos como se estivesse esperando por alguém que ia chegar. A única pessoa que toda vez que passava com um pratão de macaxeira e ficava me olhando era o rapaz da lanchonete. Em uma das viagens dele o cumprimentei com uma abaixada de cabeça e fui respondida da mesma forma.

Fiquei esse tempo vendo a relação dos feirantes com os consumidores e dos próprios feirantes entre si. Aqueles que eu observava não falavam muito, só o necessário. Entre si, muito pouco. A única conversa rápida que vi foi a mulher dos temperos indo entregar um saquinho para um dos da carne. Ela toda dissimulada vai como se estivesse saltitando, mas se mostrando durona, enquanto ele tira uma piadinha dizendo que o tempero está com cheiro de gambá e dá uma olhadinha marota nela. Ficam nessa briguinha boba e cada um vai para o seu posto.

Chegada minha hora resolvo ir embora, pois já eram quase nove. Saí achando que nem foi tão agoniante assim ficar vendo aquele amontoado de carne cheio de mosca por ali como relato nos meus diários anteriores. Acho que to me acostumando com a idéia.

Fui caminhando até o GBarbosa para pegar meu carro e noto que o trânsito continua bem intenso e mais gente chegando para fazer suas compras...