segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Diário de um Bardo...

Primeiro, minhas sinceras desculpas. O meu computador - que possui mais personalidade que eu - não me deixava registrar, aqui, os meus (di) sabores. Meu acesso à internet estava, até agora, limitado pela vontade arbitrária da Placa-Mãe, arquetípica ou não. Então, numa Segunda-Feira à noite, aproveito o bom humor da minha Máquina, e consigo ter acesso aos nossos preciosos arquivos. Relato, agora, as minhas experiências de quase-uma-semana atrás. Eis a minha parte desta Terça...

Chego no Lyons. Sim! Começemos pelo começo, ao menos desta vez. A descrição de meus caminhamentos, literais ou não, já foram expressos em impressos anteriores (e interiores...). Focarei, neste escrito, os ocorridos na atividade e tão somente nela. Entro no clube antes das duas horas, marco sagrado para o início do ritual, mas uma conversa já estava sendo estruturada entre Marcos e os demais. Sim, os demais! Afinal, ele é que se sobressai nestes colóquios. Ouço sua lalação infinita - verdadeiro discurso ex catedra - enquanto noto os balançares de cabeça dos senhores, como uma ladainha litúrgica proferida diante do altar. Entre auto-elogios, egos inflados e megalomanias, percebo que o sumo sacerdote estava a falar de uma visita à praia, que ocorreria na Sexta, dia 24. Os velhos olhos vidravam com o passeio em potência (em ônibus da Universidade, vale salientar...), mas parece que a possibilidade pura não encontrou manifestação. Encontrando Marcos, no RESUN, Quinta, soube que o passeio estava adiado (Terças, Quintas, Sextas... partes e repartes demais...).

Voltemos. Depois da retórica nada gorgiana de nosso orador, começamos os rotineiros exercícios. Mas tentei um observar diferente. Tentei ver o que ainda não tinha visto, intrometer-me no que julgava não ser meu problema, dar importância ao que antes jogava fora. Vi o Reginaldo, menino de rugas todo franzino, receber - na boca! - um copo d´água das mãos de sua mulher. Ri com as peripécias do Seu Óto e os comentários da Cumadi Jô. Escutei, atento, as reclamações de Heloísa sobre o vestido encomendado para os eventos do grupo não possuir medidas cartesianas ao seu corpo. E, falando em corpo, embasbaquei-me com a nonidecenária Joana, tocando o chão sem dobrar os joelhos... Bem, após mais uma homilia sobre os benefícios da correta respiração, eu respiro. Suspiro. Inspiro e sou inspirado pelo que ocorre depois...

Entra em palco, cheio de atores e suas experiências, uma criança. Bela. Entre todos aqueles Serafins e Potestades, surge um querubim. Nasceu em mim, naquele agora, uma dualidade que quase me fez reminescer as idéias puras do Platão velho. Deixar o devaneio e a metáfora de lado seria o mesmo que mentir. O menino entra na roda, atravessa nossos corpos e vai até o canto do salão, buscar uma cadeira. Salta o degrau, alto demais para suas pretensões e, fechadas suas asas, fica a observar aquela realidade que não é a sua. Aquela distopia que, para ele, nunca virá-a-ser lugar comum. O menino pregou uma peça em mim, uma peça que eu não soube encenar naquele mágico teatro. E eu fiquei a vislubrar o mundo outro vivenciado por aquela criança. Olhos cansados mirando o infante. Olho vidrado fitando o além. Olhos querendo fechar e olho querendo se abrir para o que ainda não se é. Outros olhos...

4 comentários:

Kleber disse...

Muitos movimentos numa só postagem, assim como deve ser nos encontros. Muitas vezes investimos em UM sentido, para dele nos apropriarmos, como se isso fosse viável e possível. Mesmo que o seja (viável e possível) parece muito pouco, quando um devaneio nos toma e nos faz ver, mesmo deolhos bem fechados. abraço!

Bruna_ disse...

Senti-me como se estivesse lá também. Gosto de como você escreve.

Bruna_ disse...

Senti-me como se estivesse lá também. Gosto de como você escreve.

Mairla disse...

é um olho aberto e o outro fechado..