quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Discussões sobre "O urbano em movimento: invenções da vida numa feira livre em Aracaju"


Aqui escrevemos  algumas palavras  ditas antes, por e-mail, ao João, sobre o relatório do pibic com o  título "O urbano em movimento: invenções da vida numa feira livre em Aracaju".  Dividimos estes devaneios e dúvidas...


Existiam alguns vulcões ativos que o princepezinho sempre cutucava com a pá... era só remexê-los um pouco e uma erupção poderia ser evitada. Naquele pequeno planeta, cuja existência havia sido comprovada por um desses cientistas que estudam o céu, também havia uma rosa. Era ela a que mais preocupava o nosso pequeno príncipe. Tudo ali era pacato. O nosso jovem acordava e já sabia o que dele se esperava: vulcões, rosa, baobás. Cada qual exigia-o alguma coisa. Mas, por um motivo ou outro, o nosso protagonista resolve explorar outros planetas, romper com seu cotidiano enfadonho. De fato, ele conheceu outros asteróides e planetas - é claro que não eram iguais ao seu lar, mas cada um tinha algo que o tornava ímpar.
Ao ler o relatório, me parecereceu muito clara a relação entre o conto de Antoine de Saint-Exupery e Eufêmia. A diferença, se me permitem dizer, é que, nesta última, os viajantes atracam e cada qual tem estórias outras, de lugares outros. Eufêmia é o lugar em que se chega, em que as reuniões acontecem. O nosso príncipe, no entanto, se assemelha mais a um desses navegadores cheios de estórias. Ele conta as estórias de planetas outros; estórias sobre rosa, vulcões e baobás. Em Eufêmia, as experiência são contadas e, ela mesma, se torna uma estória pra ser contada em outro lugar. Eufêmia é destino e partida; o asteróide do príncipe, apenas saída. Saída esta não tão diferente da dos comerciantes que chegam à cidade de equinócios e solstícios... afinal, se eles chegam, eles devem ter saído de algum lugar - é sobre esse lugar que eles falam em Eufêmia. É o que dá, à ela, graça.
Acho que na feira em Aracaju o problema são esses príncipes sempre dispostos a falar sobre seus vulcões-rosa-baobás. Não digo problema em contar, mas problema em ouvir. Como preservar-se do ímpeto de dizer que isso é mais importante do que aquilo? Como preservar-se do vício da história que privilegia alguns poucos? A feira, dentro da feira, pode acarretar uma seleção involuntária, ou não? Do mesmo modo como julgamos a feira como algo possivelmente sujo e desorganizado, dentro de um lugar maior que é Aracaju, o que seria - ou, onde seria - o menos sujo e desorganizado da feira, quando comparada com ela mesma? Então, me pergunto, o que é a feira para a própria feira? O que seria Eufêmia, se tudo o que se conhecesse fosse Eufêmia? Sobre o que se falaria? O que a faria ser "diferente"?

5 comentários:

Kleber disse...

Diego, perdi alguma coisa no seu texto. Afinal quem são os príncepes?

Diego disse...

Os príncipes/princesas são todos aqueles que têm estórias a serem contadas. No caso do ambiente da feira, os feirantes; em Eufêmia, os comerciantes. essa foi a analogia que tentei fazer com o personagem mais famoso de Antoine de Saint-Exupéry: O Pequeno Príncipe.

Kleber disse...

valeu Diego. Agora sobre as questões que encerram o texto, creio que a feira não existiria, assim como eufêmia ou qualquer outra manifestação viva e diversa. abraço!

Juaum disse...

"cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis. Mas a resposta que mais me agradaria dar é outra: quem nos dera fosse possível uma obra consebida fora do self, uma obra que nos permitisse sair da perspectiva limitada do eu individual, não só para entrar em outros eus semelhantes ao nosso, mas para fazer falar o que não tem palavra... A pedra, o cimento, o plástico."(italo calvino)

talvez esse trecho converse com algumas de suas inquietações. e penso que ele diz coisas próximas ao que é "ouvir estórias". histórias abertas.. que inconclusas pedem passagem..

Diego disse...

Belas palavras de Calvino. Sim, e isso responde a algumas inquietações. perfeito.