segunda-feira, 24 de maio de 2010

Uma tarde desfaz a idéia de que já é tarde

Estive quinta-feira passada na rodoviária do centro de Aracaju. O ônibus* começa a passar por ali, com vontade de saber daquele lugar. Há muitas possibilidades de estudos urbanos nessa relação entre o centro e a rodoviária velha. Em conversa na UfS, já havíamos apontado para algumas, entretanto, nessa quinta, sentado num banco, aguardando os companheiros de estudos, dei-me com a prosa de João, vendedor de dvd's e cd's, que ao meu lado, após tomar um banho de desodorante, quis me dizer de um tanto de sua vida.
“Faz uns seis anos que não vou a Riachuelo”. Repetiu essa frase umas três vezes, até que eu, ainda em busca de alguma audição daquele lugar, lhe compreendesse. Daí, veio a conversa e ele contou de outros tempos em Riachuelo e de outros trabalhos que lhe deram sustento e de outras cidades-lugares que lhe eram importantes.
Não era necessário levantar a bola para que João, que naquela tarde estava ali por nada, tocasse seu discurso. Imaginei que esperava uma mulher. O amor pulsando na rodoviária era denunciado no cheiro e na voz deambulante de João, mas isso é suposição minha.
João não falou de intimidade. Narrou coisas da sua experiência. Coisas que sua história conta com vontade de se repartir. Penso que assim, como em João, aqueles bancos de madeira da rodoviária velha escutem infinitas histórias que os ônibus interrompem e carregam para outros lugares de Sergipe.
Minha vontade é de sentar ali, toda semana, em busca de contadores de histórias. Coisas que acontecem sem estímulo ou reforço. Talvez quase sem psicologia.
É bom saber que há gente querendo falar da sua vida pra mim, pra qualquer um. Gente desinteressada. Gente que gosta de cuspir conversa. Eis uma boa política. Estou apostando!

* Coletivo de estudos da subjetividade e políticas para a vida

Um comentário:

Andressa disse...

Mas não é isso que acontece todo dia, em qualquer lugar, com qualquer um? É claro que não a todo momento, mas está aí, em algum momento, pra alguém, em algum lugar... Comigo já! Num instante qualquer estamos com um estranho trocando experiências de qualquer coisa. Hj mesmo foi com uma servente falando de cartão de crédito, outro dia foi no ponto de ônibus sobre ônibus, aliás, muito comum. Enfim, nas idas e vindas fazemos o diálogo acontecer sem querer e querendo. Agora, saber se isso é fazer psicologia eu não sei, acho que não, espero que não, mas que acaba servindo de alguma fora para a psicologia, pode até ser né?