domingo, 31 de maio de 2009

Das ruas. Das histórias.

Como a gente bem sabe, os trabalhos não obedeceram aos fechamentos trimestrais, pois o tempo inteiro era de uma outra ordem, na qual as palavras e as coisas se atravessavam e constituiam-se a medida que caminhávamos no processo fundando uma logica de funcionamento. Assim também vejo os limites dos planos ou mesmo das duas pesquisas, pois estes eram porosos possibilitando misturas, contaminações através do diálogo.
Abaixo estão alguns apontamentos (por)sobre o plano de trabalho ao qual me inscrevo. Penso que o tempo que nos resta pode servir pra efetuar alguns fechamento e possibilitar outros caminhos, já que daremos continuidade a pesquisa por mais um ano no mínimo. E aqui abro para os comentários.

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Plano de trabalho: A rua, o espaço urbano e a história.

Agosto, setembro e outubro de 2008

Realizar levantamento bibliográfico relacionado à história do espaço urbano, bem como seus modos de funcionamento e de organização, compreendendo o mundo ocidental naquilo que se configura como medieval, moderno e contemporâneo.
Ler e fichar o material bibliográfico recolhido.
Participar das reuniões semanais do grupo de pesquisa.
Apresentar a cada mês, o resultado do trabalho, de modo que o grupo possa interagir com o mesmo que é específico de cada estudante.
Iniciar o processo de observação de campo e dos objetos que estão sendo problematizados no trabalho.
Participação no seminário de metodologia da pesquisa.

Acho que conseguimos realizar um levantamento bibliográfico de modo suficiente, porém poderíamos ter “perdido” um tanto mais de tempo em relação a ele. Reuniões realizadas com freqüência e com certeza de grande importância pra construção do trabalho. Apresentação e problematização do trabalho de campo realizada de corpo presente nas reuniões ou mesmo aqui pelo blog através dos diários de campo construídos no decorrer das observações.

Novembro, dezembro (2008) e janeiro (2009)

Produzir do relatório semestral a ser encaminhado ao Pibic.
Participar das reuniões semanais do grupo de pesquisa.
Observação sistemática (na feira-livre, semanalmente; e no bairro duas vezes por semana) do campo e dos objetos que estão sendo problematizados no trabalho.
Registro de imagens de cenas dos espaços observados.
Atividade de leitura e produção de textos

Relatório produzido. Reuniões freqüentes do grupo. As observações foram feitas semanalmente, na medida do possível, porém não foram efetuadas observações sistemáticas do bairro, a não ser ocasionalmente. Faltamos também quanto ao registro imagético.

Fevereiro, março e abril de 2009

Participar das reuniões semanais do grupo de pesquisa.
Iniciar processo de análise dos registros feitos durante o trabalho de observação.
Realização de entrevistas com feirantes e carroceiros.
Atividade de leitura e produção de textos
Realizar a transcrição das entrevistas.

Participação efetiva das reuniões de grupo. Imagino que o processo de análise se deu o tempo inteiro em que estivemos inseridos no campo, lendo, escrevendo, conversando. Entrevistas sistemáticas não foram realizadas, porém conversamos bastante com pessoas da feira e estas conversas foram descritas nos diários de campo.

Maio, junho e julho de 2009

Produção de relatório final.
Articulação desse plano de trabalho, com os demais planos envolvidos nessa atividade de pesquisa.
Produção de trabalhos acadêmicos que possam ampliar a discussão sobre os usos do espaço urbano na cidade de Aracaju.

Esta análise de nosso trabalho já faz parte do processo de produção de um relatório final. A articulação entre este plano e o de Mairla sempre existiu, pois trabalhamos juntos o tempo inteiro visto que nossos planos se atravessam. Trabalhos acadêmicos estão sendo pensados e outros já foram apresentados, além da participação em encontros discutindo cidade.

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Achei ótima a idéia do Lázaro de colocar a bibliografia aqui, pode servir para perceber por onde estão indo meus pensamentos, bem como sugestão de leitura.

Pretendo incrementar o trabalho com mais história do espaço urbano, e aqui inclui o "Estatuto da cidade" - lei que regula o desenvolvimento urbano no pais. Essa história contada nos ajuda a pensar os modos como vivemos na cidade hoje e como se operam as invenções cotidianas que produzem história do presente. Alguns dos textos abaixo ainda não foram estudados, porém lidos, e pelo que eu vi podem ajudar na problematização a qual nos propomos.

Bibliografia:


AUGÉ, Marc. Por uma antropologia dos mundos contemporâneos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
BAPTISTA, Luis A. A cidade dos sábios. São Paulo: Summus, 1999.
________. Walter Benjamin e os anjos de copacabana. in: Revista Educação Especial: Biblioteca do Professor n° 7, 2008.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 2007.
FOUCAULT, Michel. Resumos dos cursos do Collège de France. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.
________.Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987.
________. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2007.
________. A vida dos homens infames. in: FOUCAULT, M. Ditos e Escritos IV: Estratégias poder-saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.
GUATTARI, Félix. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1993.
KASTRUP, Virgínia. Funcionamento da atenção no trabalho do cartógrafo. In: Psicologia & sociedade, v. 19, n. 1, p. 15-22, jan/abr. 2007a.
________. A invenção de si e do mundo: uma introdução do tempo e do coletivo no estudo da cognição. Belo Horizonte: Autêntica, 2007b.
LAPLANTINE, François. A descrição etnográfica. São Paulo: Terceira Margem, 2004.
LOPES, Kleber Jean Matos. Modos de atenção na cidade além da conta: uma reflexão sobre lugares e não lugares. In: Revista estudos e pesquisa em psicologia – dossiê cidades. v. 7, n. 2. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2007.
________. Tal qual um Beatles na capa daquele álbum que não recordo o nome ou sobre as possibilidades de controle na cidade contemporânea. In: VASCONCELOS, J. G., ADAD, S. J. H. C. (orgs.). Coisas de cidade. Fortaleza: Editora UFC, 2005.
MACHADO, R. et alli. A (da)nação da norma: medicina social e constituição da psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1978.
RAGO, Margareth. Libertar a história. in: RAGO, M; ORLANDI, B. L.; VEIGA-NETO, A. Imagens de Foucault e Deleuze: ressonâncias nietzschianas. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
RODRIGUES, Heliana de B. C. Para desencaminhar o presente Psi: biografia, temporalidade e experiência em Michel Foucault. in: Foucault e a Psicologia. Porto Alegre: Abrapso Sul, 2005.
RODRIGUES, José C. Higiene e ilusão: o lixo como invento social. Rio de Janeiro: NAU, 1995.
________. O corpo na história. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1999.
ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. Porto Alegre: Sulina; Editora da UFRGS, 2007.
SALAZAR, Gabriel. Ferias libres: espacio residual de soberanía ciudadana. Colección Intervenciones en la Ciudad. Santiago de Chile: Ediciones SUR, 2004.
SARLO, Beatriz. Cenas da vida pós-moderna: intelectuais, arte e videocultura na Argentina. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2000.
SENNETT, Richard. Carne e pedra. Rio de Janeiro: Record, 2006.

Um comentário:

Kleber disse...

Juaum,
Penso que os nossos encontros fora e dentro desse blog, constituem uma rica memória para discussões metodológicas. Não há aí uma pretensão. Há a experiência posta. Há atravessamentos político pedagógicos muito complexos que se encaminham de modo muito simples: o encontro com conversa. Veja bem, que não faço aqui uma redução. Ao contrário; busco apontar para uma extensão.
Pois bem, isso me serve para falar um pouco da questão da necessidade de entrevistas estruturadas ou semi-estruturadas na produção do conhecimento formal. Elas são importantes, mas por isso seriam fundamentais ou imprescindíveis? Não. Principalmente quando é a função-cartógrafo que está pulsando num trabalho de observação, entrada e permanência num campo de pesquisa. Desse modo, conversa é entrevista. A melhor entrevista. Parcial, por certo. Assim como tudo aquilo que ainda não morreu nessa vida!
Como já falei pra Mairla da questão da rua sem a feira, vou passar essa aqui. Mas ressalto a questão que você pontua bem sobre os planos atravessados. Isso é importante constar nos relatórios de muitos modos. Acho que em todos os relatórios. Esse espaço (blog) atravessa todos os planos. Esse espaço é aquilo que nele é escrito. Todas as escritas dizem de nós e de um mundo em nós. Isso serve para nossos encontros na UFS ou aqui em casa. Isso serve para quem foi junto ao campo de intervenção. Isso serve para quem buscou produzir um texto em comum sobre um assunto ou uma visita a feira ou aos nossos velhos. Isso serve para quem pensou em alguém quando redigia uma frase relativa à pesquisa antes, durante ou depois dessa escrita. Ou mesmo antes, durante e depois, pois acredito que o que se produz se faz sempre por atualização. Por aí...
Já sobre essa proposta do espaço urbano e o Estatuto, acho que deva ser um bom tempero pra já e um bom caldo pra amanhã, depois de agosto.
Abraço!