quinta-feira, 14 de maio de 2009

sobre Paul Virilio - A máquina de visão

Engraçado como antes desse livro eu ainda não tinha reparado em um aspecto tão importante da luz como o de possibilitar que as coisas sejam vistas. Do que adiantaria um aparato sensorial de visão perfeito se a luz não o complementasse expondo a ele algo a ser visto? E aí entra também um outro elemento fundamental nesse jogo de manipulação da luz e da visão: a sombra. Esta permite ocultar e manter reservado aquilo que não quer se mostrar. Muito perigoso isso! Pra mim, isso tem como conseqüência, no mínimo, a sensação de estar nas mãos de alguém que pode decidir sobre aparece na minha realidade ou não, como naqueles brinquedos de montar, o Lego, assim, a depender da boa (ou má) vontade de alguém que possui todas as peças e monta o cenário somente com aquelas que deseja, ou, em outras palavras, de alguém que manipula a luz e a sombra fazendo aparecer somente aquilo que lhe convém. Acho que Descartes entenderia um pouco do que estou falando, só que ele tinha o conforto de crer que era um Deus ou gênio maligno que brincava com seu destino. Mas do jeito que Virilio expõe essas questões, ele nos apresenta a tosca e desconfortável realidade de estarmos nas mãos de outros mortais. Como resultado de estar nas mãos dos homens o poder sobre a luz e a sombra, vemos um tal abuso desse poder ao extremo de se apoderar do fenômeno da visão humana com o intuito de dominar, prever, reproduzir e substituir (me dá até calafrios!). Para isso, primeiro teve-se que quantificar tal fenômeno e subjugá-lo a leis que não o antecedem. Daí decorre que a visão se viu reduzida a essa parte quantificável perdendo seu caráter imaginativo. Depois desse primeiro passo os seguintes foram mais fáceis, baseando-se apenas na aplicação das leis criadas em superfícies não-humanas. Veja que dar a máquinas características humanas foi a parte fácil porque antes disso os homens é que foram maquinizados!

9 comentários:

J. Thiago disse...

Postagem inaugural da Elen... :D

Sinta-se em casa, fia! Ficamos felizes com mais um corpo vindo ao encontro, de encontro, para o encontro nosso... ;)

Pois bem! Achei legal a sua "pegada" do Virílio. Pegada viva! Só eu, tu e o Kleber lemos o livreto - é verdade - mas o seu registro critica, abre condições de possibilidade pra uma discussão onde todos são bem-vindos...

Mas... Você falando lembra-me muito aqueles discursos "Conspiracy Theory", no qual uma determinada fatia de aristocratas cria e recria a vida dos proletários oligofrênicos. Somos controlados por homens fora do sistema, pelos arquitetos da matrix, pelos sujeitos puros do saber e do poder. Mas, como sujeitos, eles também não estariam sujeitos a alguma lógica!? Alguma rede!? Alguma coisa!?...

Kleber disse...

Um sujeito pode estar sujeito a algo sempre? Ou um sujeito se sujeita para garantir sua condição de sujeito adiante? Ou ainda, um sujeito sem querer ou perceber se faz sujeito e sujeitado ao mesmo tempo, por não conseguir ser o sujeito? Quando uma máquina pode vir a ser sujeito?
Nem sempre quem pergunta tem resposta para questão proposta. Acho isso importante em alguns movimentos que podemos e precisamos fazer. É como enfiar a política na farinha, fazendo com que ele se distinga de e entre si, mesmo habitando o mesmo saco.
Um desafio demanda encaminhamentos. Como se relacionar com as sombras? Bem vinda Elen. Abraço!

Lázaro disse...

"se eu tivesse a força que voce pensa que eu tenho eu gravaria no metal da linha pele o seu desenho/ feitos um pro outro, feitos pra durar. Uma luz que nao produz sombra." (E.H.)

É mais fácil viver de sombras que de sóis?

Elen disse...

ao ler os comentários de vcs lembrem de Deleuze qnd ele fala q temos q pegar a obre de alguém e transformá-la em um monstro. vejo q isso é muito levado a sério aqui hein! achei mto legal!
mas... mudando de assunto,
será q os sujeitos podem estar sujeitados se estiverem nas sombras?
talvez se colocando nesse lugar eles não sejam reconhecidos como sujeitos e possam burlar as lógicas, mas só a parte deles q se recolhe à sombra. quando nos expomos à luz é difícil fugir ou não se sujeitar. não é?

J. Thiago disse...

Expor-se à luz, iluminar, esclarecer... Lembra-me muito a politéia do Platão, governada pelos homens bons, os filósofos. Vale lembrar - só a título de informação - que "filósofo" é quem pensa como ele! Detalhe irrelevante, claro, mas que aponta pra uma determinada lógica na qual teorizar é praticar, sistematizar é controlar e saber é poder...

Paulo Leminski disse...

A lei do quão

Deve ocorrer em breve
uma brisa que leve
um jeito de chuva
à última branca de neve.

Até lá, observe-se
a mais estrita disciplina.
A sombra máxima
pode vir da luz mínima.

Lázaro disse...

Uhau!("Esse cara" deve ter lido Foucault e Bauman...)

Ô elen, acho que a resposta para suas perguntas está nas perguntas que o kleber faz no comentario dele. Se nao to entendendo tudo às avessas (o que tambem é um entendimento), é mais ou menos aquela historia de que a gente é mais livre do que acha que é. Lembra?

Mairla disse...

como é isso que a gente é mais livre do que acha que é?
me soou tando com um pontinha de esperança...

me conta isso, lazaro!

Lázaro disse...

Menina protazio, é de um tal texto quase postumo de foucault em que ele, assim ouvi, diz que nem tudo ta perdido e que a gente é mais livre do que acha que é.

Nunca li o texto, mas num vou negar que to curioso.

Qlqer coisa Elen e "O Maximo das Maximas" sabem te dizer.