quinta-feira, 14 de agosto de 2008

a sexta e a feira

é frio. de chuva. alarme toca, dispara. e a não coragem de amanhecer de novo. porque mais um dia a gente às vezes não consegue aguentar. mas chuva é pra dormir mesmo, pensa ela. volta pra cama, então.
mas vou passar o dia todo aqui? sem comer? levanta, faz café... e o pé-de-moleque? são 6:30, hora boa de ir na feira. pega seu guarda chuva verde e sai.
já entra na feira no meio de um engarrafamento de carrinho mão. como não há buzina, há grito. o outro veio pela mão errada e ainda queria passar. um do lado do outro. ao mesmo tempo. fica enganchada entre três carrinhos.
ouve alguém por perto dizer que hoje a feira tá impossível!
logo a frente vê menino dormindo com os mamões. na banca. enroladinho. sente inveja de dormir também... mas os sorrisos da mulher do frango são tão encantadores que pensa que vale a pena. compra coentro. feijão branquinho. quebra-queixo. procura amendoim pra torrar. e não acha. é tempo de chuva, tá em falta até em supermercado. procura o melhor pé-de-moleque mas acaba se encantando pelo "moça linda, vai querer o que hoje?" da mulher mais próxima. satisfeita sai andando pra passar mais o tempo.
logo a frente um fuzuê de criança de farda indo visitar a feira. é tomate, gritaria, tempero, foto, e a professora pedindo pra ficar perto.
mais a frente uma conversa fiada de três senhoras. tirando sementes de uma folha verde. acha que feijão. falam tão rápido que não entende o que ouve...
agora tá sol. e começa a esquentar a cabeça. então decide andar outra vez pelo meio da feira.
olha o cadeado deeeeeela! grita o vendedor de bugigangas. ela dá aquele sorriso sem graça. bom dia. bom diiia freguesa.
hora de ir embora. diz o estômago. vai atravessar a rua junto a umas senhoras e uma carroça pára na faixa de pedestre e dá a mão pra trás para os carros parrarem. podem passar, diz o carroceiro.
é uma gente tão diferente de bonita. que deu até vontade de nem voltar a dormir...
pra se encantar, é só um sorriso. vai-se indo então pro seu canto. fazer os pontos, de cruz. e conversar com o mais próximo que chegar. porque quem conta um conto, ganha um ponto.

2 comentários:

Kleber disse...

muitas imnpressões. há o que fica e vai mudando, com os retornos. adiante e entre o tráfego e os modos de vender, há muito pra saber. abraço!

Juaum disse...

relendo o texto, pensei que há uma importância nas primeiras linhas do diário, quando mostra a relação do pesquisador consigo mesmo antes de ir ao campo. é bom salientar isso na escrita, pois a experiência não fica restrita aos feirantes, ao campo, à insalubridade ou seja lá o que que se possa capturar com nossos aparatos técnicos de observação. a "pré-observação" diz algo sobre nós mesmos e sobre o campo, a história que se conta antes e depois do que fazemos, em parte imaginação em parte impressão, importa para a construção do objeto e para a produção de nossos entendimentos. precisamos conversar mais sobre as coisas de dizemos aqui.