domingo, 15 de março de 2009

Diário 13 03 09

Quando cheguei nessa sexta, dei conta pela segunda vez da falta dos meninos que costumavam me receber antes da feira. Eles ficavam tomando conta dos carros estacionados e já eram conhecidos. Mas lembro também que uma vez um deles me falou que estava ali na feira só enquanto estava de férias, supus pela sua regular falta que suas aulas tivessem começado. Pois bem.

De início, fui recebido com uma notícia triste. Ao cumprimentar dona Finha, ela falou que a moça que vendia cocos junto ao vendedor de pastel do outro lado da rua e de frente para sua banca, tinha sofrido um acidente de moto e havia morrido uma semana depois. Não me explicou direito por causa do movimento grande que a feira tem nas ultimas duas sextas. Falei, então, com seu Juscelino que finalmente aparecera após ter passado por uma operação de hérnia. Brinquei, “seu Juscelino, quanto tempo que não vejo o senhor, fiquei sabendo que passou por um ruim... te passaram a faca e cortaram alguma coisa sua, mas agora ta melhor?” ao que ele rindo falou, “melhor eu tou... mas que história feia é essa que me passaram a faca e cortaram uma coisa minha, não teve isso não, viu? Ta tudo aqui certinho. Aí gosta de ser gaitoso né?” e ficamos rindo, enquanto ele me contava coisas sobre a operação que havia feito quinze dias atrás e tentava me convencer a comer pão com requeijão. Saí com a promessa de aceitar um café na volta.

E andando pela feira, parei pra falar com dona Rosália, vendedora de bolachas, tapioca e beiju. Comprei alguns biscoitos ao tempo que conversamos sobre o carnaval dela e sua constante cara de cansada. Disse que ficava cansada, pois tinha que, no dia anterior, fazer as coisas pra vender tudo fresquinho além de viajar de Itaporanga até aqui. Perguntei se ela trabalhava só naquela feira e ela disse que aqui em Aracaju sim, mas lá em Itaporanga ela ia também a uma feira de quarta para vender e na de sábado para comprar. Lembrando da semana anterior quando foi instituído o aumento do aluguel das bancas de R$ 6,00 para R$ 8,00 - o que causou tumulto e bastante reclamação, e até uma bicicleta passando com caixas de som por entre as bancas gritando que a associação de feirantes é contra o aumento (ao que parece, passou em várias feiras da cidade, se não todas) -, puxei por esse assunto com ela. Perguntei sobre o aumento do valor e ela disse que era verdade que cobraram sem aviso prévio e sem participação dos feirantes nessa decisão. Disse de modo indignado que não era certo, pois as bancas não haviam mudado, eram as mesmas armações velhas de metal, só mudara a lona que cobre nossas cabeças do sol e da chuva. Falou ainda que eles não haviam passado naquela manhã e não sabia se o preço continuaria depois da pressão da associação. Perguntei se o preço da banca em Itaporanga era o mesmo, disse sorrindo que lá é que é bom, as bancas são todas novinhas e eles pagam somente um real.

Me despedi de dona Rosália e continuei andando e cumprimentando os já conhecidos. Devagar, acabei por sentar ao lado de seu Juscelino levando biscoitos para comer com o café. Falei-lhe sobre a possibilidade de prolongar a pesquisa por mais um ano e sobre algumas idéias que trabalhavam na cabeça sobre o que fazer lá com essa continuação, ele mostrou-se bastante entusiasmado com isso e deu algumas idéias também – ficou bastante empolgado quando sugeriu trabalhar com imagem, sejam fotos ou vídeos. Conversamos sobre a morte da vendedora de coco: ele disse que ela, dois sábados antes, havia sofrido uma queda de moto e batido a cabeça; não foi ao médico mesmo sentindo dores e após uma semana, quando saia de um banho frio, caiu desmaiada e morreu antes de chegar ao hospital, descobriram que havia formado um coágulo em sua cabeça. Perguntei então quem era o rapaz que a substituía abrindo cocos ao lado da banca do pastel com caldo de cana, ele disse que era o irmão dela, que não o conhecia, mas imaginava que já trabalhasse também com cocos em outras feiras. Falamos ainda sobre o aumento do aluguel das bancas, seu Juscelino falou que o governo tinha imposto aquilo sem ao menos informá-los, simplesmente chegaram na sexta passada e cobraram oito reais, “sorte que a associação fez barulho e agora acho que o valor vai voltar ao que era”. Disse que a associação tinha apenas cinco meses, mas que ele já vinha pensando cinco anos antes que era preciso montar uma associação para defender seus interesses. Falou que agora estava certo, pois o governo ia conversar com a associação antes de implementar algum aumento, tinham agora um representante frente às imposições governamentais.

Do outro lado da rua, na esquina da farmácia dois homens tinham em uma caixa por volta de cinco filhotes de cão. Acompanhei seu Juscelino quando foi observá-los, disseram que eram filhos do cruzamento entre um pastor alemão e um fila, a mãe de cor preta e o pai marrom, por isso quatro deles eram negros com patas marrons e um deles todo marrom. Observando isso seu Juscelino questionou porque só um deles era de cor marrom e o vendedor respondeu dizendo que era coisa da genética. Citou o exemplo curioso de um professor seu que era branco feito leite, mas que tinhas os cabelos duros, disse que era por causa da genética, pois a família do pai era branca, loura, de olhos claros e a da mãe tinha ascendência negra, “então é assim, a genética é um bicho engraçado que vai láááááááá... longe e pega umas coisas daqui e outras coisas dalí mistura tudo e bota em você”. Feita e exposição sobre genética ele disse que fazia vinte reais no cachorrinho, seu Juscelino titubeou e acabou levando um por dez. Chegou mostrando para dona Finha o que havia conseguido a um preço bastante camarada, ela reclamou dizendo “mas você não tem juízo mesmo, não ta vendo que não tem mais onde colocar cachorro lá em casa? Já são cinco...”, só que quando ele falou o preço ela saiu para olhar os restantes. Nesse momento a banca de Finha ficou vazia e chegavam fregueses perguntando preços e comprando coisas, ficamos eu e seu Juscelino tentando fazer o possível, mas como ele já tinha dito há bastante tempo, “para ser feirante tem que ter ginga, tem que ter o dom” e eu e ele não tínhamos nem a técnica. Alguns fregueses ficaram rindo de nós e outros com a demora do atendimento foram embora. Então ela voltou com mais um cachorro mangando de seu Juscelino, pois o havia comprado por cinco reais. Agora eram sete cães.

2 comentários:

Mairla disse...

kkkkkkkkkkk
esse dia foi engraçado demais!
tanta história e informação! temos que realemnte levar um caderninho de anotações pra feira...

e, me divirto demais com seu Juscelino! belo de um achado na feira, viu?
nunca imaginei que de um "que horas tem aí?" fosse parar aqui!
hahaha =)

Bruna_ disse...

Esse dia me pareceu bastante produtivo!!! e poxa um cãozinho por cinco reais??