sexta-feira, 27 de março de 2009

Memória e Sociedade

Memória e Sociedade
Ecléa Bosi

4 - A substância Social da Memória

Quando Le esse título fiquei me perguntando várias coisas: Substância social, mas o que será isso? A memória possui uma substância social? Se sim, como se constrói? Como se fundamenta?
Não sei se consegue apreender todos esses questionamentos.
Nos dois primeiros capítulos de Memória e Sociedade Bosi nos apresenta a velhice como uma categoria social, categorial esta sem muitos benefícios e créditos para a corrida mercadológica do capitalismo. Como ela diz no segundo capítulo: “Os burgueses desinfetam as paredes da eternidade. Para que lembrar? Para que se eternizar coisas? Já que os indivíduos buscam o novo.
No terceiro capítulo, Bosi expõe a biografia dos velhos, biografias estas ditadas pelos próprios velhos.
No quarto capítulo ela já analisa esses depoimentos. Ela se utiliza de um tempo sem fronteiras. Quando ela diz no primeiro capítulo: “A memória permite a relação do corpo presente com o passado e, ao mesmo tempo, interfere o processo “atual” das representações” (p. 46). Fica muito mais claro quando ela afirma: “Convém refletir sobre a divisão social do tempo que recobre as horas do relógio e impõe uma duração nova”. (p. 416), já no quarto capítulo.
Através da busca da substância social da memória, ou seja, aquele fato social que evoca lembranças, que forma as nossas lembranças individuais, mostra-nos a produção da subjetividade como algo não estático entre o social e o individual.
“...fica a idéia de uma apreensão do tempo dependente da ação passada e da presente, diversa em cada pessoa. Um tempo que fosse abstrato e a-social nunca poderia abarcar lembranças e não constituiria a natureza humana. É esse, que ouvimos, tempo represado e cheio de conteúdos, que forma a substância da memória”. (p. 422)

Dessa forma, com essa maneira de apreensão do tempo Bosi mostra-nos como é usada a expressão meu tempo, pois apesar de autores como Simone de Beauvoir dizer que “o tempo que o homem considera como seu, é aquele onde ele concebe a execução de suas empresas...” (p. 421), alguns velhos disseram que seu tempo foi o tempo em que Jesus andava no mundo, outros velhos ainda trabalhavam, ou sonhavam voltar a trabalhar. Assim, Bosi afirma que essa visão de Simone parece-lhe pessimista.
“O tempo social absorve o tempo individual que se aproxima dele”. (p. 418)
“... uns e outros sofrem de um processo de desfiguração, pois a memória grupal é feita de memórias individuais”. (p. 419)
“Outros ramos se nutrem de suas raízes e frutificam com vigor renovado, chamando para si a seiva dos galhos originais – a enxertia social não deixa que as lembranças se atrofiem”. (p. 426)
Parece-me que nessas passagens Bosi nos mostra como o social e o individual caminham juntos, entretanto não necessariamente um ao lado do outro, ou um construindo o outro de forma recíproca e mútua. Pelo contrário, essas duas diretrizes - o social e o individual se fundindo, se misturando, se usando. Tal afirmação fica mais explícita quando Bosi descreve momentos em que alguém lembra alguma passagem de nossa vida, mas caso nós mesmo não lembremos é como se aquilo não fizesse parte de nossa história, ou quando contamos nossas peripécias infantis, como se realmente lembrássemos de tudo, mas na verdade apreendemos de nossos pais, avôs que nos cantavam nossas histórias infantis. “O grupo é suporte da memória se nos identificamos com ele e fazemos nosso seu passado”. (p. 414)
Quando Bosi começa a delinear lembranças da família, lembranças do trabalho ela vai nos mostrando como ocorre uma produção da subjetividade mais específica, “Se, como diziam, a comunidade diferencia o indivíduo, nenhuma comunidade consegue como a família valorizar tanto a diferença da pessoa”. (p. 425), e continua afirmando que é dentro do seio familiar que a personalidade é mais avaliada, julgada. Mostra-nos como cada um descreve sua mãe, seu pai, seu avôs, sua família, algumas semelhanças podem até parecerem semelhantes, mas “O que as recordações tenham em comum, ou em paralelo, é o que esperávamos, mas o que nos chama a atenção são as diferenças de observações sobre o mesmo fato e essas lembranças em contraponto que embelezam ainda mais duas vidas já em si tão belas”. (p. 413)
Já nas lembranças políticas: “Na memória política, os juízes de valor intervêm com mais insistência. O sujeito não se contenta em narrar como testemunho histórico “neutro”. Ele quer também julgar, marcando bem o lado em que estava naquela altura da história, e reafirmando sua posição ou matizando-a”. (p. 453), afirmando que deve visualizar a “localização de classes e a profissão de quem está lembrando para compreender melhor a formação do seu ponto de vista”. (p. 454)
Assim, são os diferentes meu tempo descritos por cada velho que me leva a refletir sobre a singularidade da categorial social velho. Entretanto, não esquecendo que cada um é um indivíduo, e para a existência desse indivíduo precisamos da sociedade em uma relação dinâmica com cada um.





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