domingo, 30 de agosto de 2009

Parte II. Do Signo em Peirce

Diz Vasconcellos de Deleuze (e como é engraçado comprar produtos de terceira mão...): a semiótica peirciana, em sua classificação dos signos propõe, em verdade, uma classificação geral das imagens. Há, em Peirce, uma relação direta entre signo e imagem. Um signo seria alguma coisa que admita, ao menos, um "interpretante". Nesta brincadeira, Peirce cataloga 76 grupos de signos, distribui-os em três grandes categorias (ícones, índices e símbolos), divide-os numa tricotomia signalética (qualisigno, synsigno e legisigno), organiza-os numa nova tripartição (rema, dicissigno, argumento)... Logorréias, verborragias, et ceteras e blá-blá-blás pouco necessários ao ponto que o próprio Vasconcellos quereria chegar em sua tese. Deleuze-leitor-de-Peirce vê tal teoria dos signos muito mais como uma intercessão ao pensamento bergsoniano do que pelas observações peirceanas mesmas. O ponto final: Deleuze quer propor - Vasconcellos o diz! - uma articulação entre Peirce e Bergson, signo e imagem.
Este, no entanto, é o primeiro movimento feito por Deleuze. Esta relação signo-imagem é metade do trajeto deleuziano no livro do Vasconcellos. Tão relevante quanto esta articulação é uma segunda conexão importantíssima ao devir-cinema da filosofia deleuziana, da qual a primeira é apenas ponte: a junção signo-tempo, que coloca o signo como força a pôr o pensamento em mobilidade, signo como imagem-tempo e imagem-movimento.
Do cinema nascem signos, signos próprios ao cinema, mas que não se restringem a este domínio. Irrompem! O mundo faz cinema e o cinema se faz no mundo. Ao contrário da semiótica tradicional, que reduz a imagem a um simples enunciado, há, em Peirce, uma reflexão sobre imagem e signos para além de sintagmas, paradigmas e significantes. O cinema, enquanto obra de pensamento, é uma resposta lançada pelo diretor quando este se depara com certo problema. O diretor é um pensador, criador de signos e imagens, sendo estes não o próprio pensamento, mas o que possibilita o mesmo de sair da sua habitual paralisia.
O signo, em Peirce - ou o modo como Deleuze dele se apropria, ou o modo como Vasconcellos lê a leitura de Deleuze, ou qualquer outra coisa que o valha -, desta maneira, não se restringiria à linguagem, assim como o cinema não se resume à linguagem, como na psicanálise ou na semiologia. A filosofia deleuziana é pensamento-tempo. Não o tempo subordinado ao movimento, mas o tempo mesmo, o tempo puro, que não muda nunca mas que não se identifica à imutabilidade dum Eterno. É forma vazia, como aponta o transcendentalismo da filosofia kantiana...

Um comentário:

Kleber disse...

amigo, aqui o resumo é contido. Conversemos depois sobre essa proposta de conversão do signo em algo pra fora. Talvez seja o caso de ensaiarmos um vocabulário menos escafandro e mais borboleta.