terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Ao ler o texto escrito pelo tiago, não empreendi com olhos de crítico. Tentei caminhar por ele como quem caminha em uma rua, às vezes sem rumo. Dobras, arestas, pontas, esquinas... me interessam e busco-as, pois nelas possivelmente há diálogo. O texto é polido com esmero, trabalho de joalheiro, daqueles ofícios do bilac. Métrico, organizado, diria até limpo; por ordem da introdução indica como pensa o trabalho com os velhos – diria senescentes, mas acho engraçada essa palavra – e aqui relaciona brevemente com os textos.

Mas então acontece a revisão de literatura, e é aqui que eu quero puxar uma conversa. Belamente o tiago nos apresenta seus quatro textos utilizados, foucault, foucault, ortega, guattari. Apresenta-os, em resumo, fala de suas partes, é fiel aos autores, diz aquilo que os autores haviam dito, articula-os de forma sólida. Bom e bonito, mas acho que permite um curto-circuito, os textos versam entre si criando uma lógica própria, mas não vi versarem com o fazer do grupo ou dos velhos a não ser brevemente na introdução e de maneira precipitada no primeiro parágrafo da discussão. E isso um tanto me incomodou.

Para que servem tantos, ou mesmo poucos textos? Essa é uma reflexão que faço e me proponho a pensar com vocês. Às vezes caímos no ranço acadêmico mostrando nossa leitura e entendimentos de variados textos, falar ipicilíteris aquilo que o foucault disse, ou que o freud, skinner e tantos outros que disseram coisas. Mas de que nos servem? Como funcionam em nosso fazer? Alguém me disse, em um texto, que importa fazer com que os autores falem aquilo que possa funcionar em seu fazer. Estes seriam textos-ferramentas, então a pergunta é... Como eles funcionam?

6 comentários:

Juaum disse...

Desculpem a demora, mas estava e estou um tanto impaciente para algumas coisas...
mas aí vai voltando aos poucos.

J. Thiago disse...

Opa! Bora nóis... :D

Ao escrever a literatura, eu não visava - tão somente! - atender a uma determinada demanda retórica para a escrita do relatório.

Ansiava (se mal ou bem feito, não sei; se é algo que deveria ou não ser feito, também não sei...) linearizar a literatura. Simplificá-la, des-emaranhá-la, des-envolvê-la!

Explanei a transição do "principado transcendente" às políticas públicas estatais, passando pela medicina estatal alemã, o higienismo urbano francês e a medicina da força-de-trabalho inglesa. Procurei falar da bio-ascese como uma política pública estratificada enquanto disciplina individual, repetitiva e massificante e, fechando (ou abrindo...) emendo o Guattari e seus ritornelos existenciais. :P

É um tipo de escrita que, creio eu, não agradou a Kleber nem a João e - vejam só! - não me agrada agora. O produção foi substituída pelo produto, as experiências por experimentos, a filosofia por ciência.

De minha parte, me compromento a pensar e a fazer pensar mais em meus próximos escritos... O João volta, aos poucos, e eu me vou, igualmente devagarinho...

Juaum disse...

Veja só james...
isso que vc falou eu entendi, perfeitamente diga-se de passagem, através do seu texto, transparece. e seu comentario me soa um tanto quanto justificativo, não é essa a questão... se está certo ou errado.
como vc disse, linearizou, poliu... limpou... talvez esse movimento apare as arestas e dá a impressão de que o texto se basta.
Meu intuito com esse textinho sobre o texto é dialogar, conversar sobre isso, não acusar. É pegar essa ponta que por vezes passa batido e conversar sobre isso, em que ela nos serve.

J. Thiago disse...

A questão é - justamente - esta! Justificar! :D

Eu estava, hoje, conversando de leve com Kleber sobre imaginação, Bergson, simulacros e outras coisinhas igualmente punks (ou ciberpunks...). E a questão é que eu não sabia, simplesmente, onde chegar. Sem pontos de partidas, sem viajores, sem referências, sem objetivos. Só indo!

E é justamente esta liberdade gostosa que eu temi no relatório: eu estava - estou! - fluido demais, mole demais, saltitante demais. "Ajustar" textos foi a "solução" que encontrei, mas não é a "solução" a ser dada! Foucault falando de Panoptismos, Biopolítica, Dispositivos não é o importante, mas a chacoalhada que ele dá no que se mostrava dado e estabelecido. E esta apropriação, embora passível de ser manifesta, é sempre pessoal... :)

Kleber disse...

Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

P. Leminski

Kleber disse...

Publiquei um comentário do Leminski sobre a escrita, pois a conversa do Thiago com o João me levou a ele. Quando uma coisa é puramente erudição? Acho que nunca. Quando uma coisa é profundamente provocação? Nunca também. Um texto não deve buscar soluções, mas exercícios. Vejo na conversa, motivos para um riso incontido meu. O prazer de lê-los e por isso agradeço sorrindo! Abraço!