segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O Pé de Feijão

Acabei de degustar o relatório de João, enquanto ouvia o violão de Yamandu chorar, sentia as batidas no piano de Comptine D'un Autre Ete, conversava alguma coisa com duas ou três pessoas no Messenger, baixava algumas partituras de Bach no 4shared e pesquisava uma e outra sinopse de Amélie Poulain, minha mais nova paixonite. E é justa e corretamente esta a confusão de estímulos, a profusão de linhas, a sistematização complexa que se encontrou comigo no trabalho de nosso amigo.
Deixarei as coisas esclarecidas e descobertas desde este começo. Não vou fazer resumos do "presente relatório" nem apontar o que o autor "objetiva". Quem quiser algo mais dado que vá ler o relatório mesmo! Lembro de Platão me falando - se no Fedro ou na República não lembro - que um livro "versa", mas não "con-versa", "loga", mas não "dia-loga". Pois bem! Falando em Platão...
O texto de João é recheado de dualismos! Não o dualismo da verdade, das análises e das categorias, mas a furtividade do doppelganger, a retórica do gorgiano, a mentira da criança. Ruas e casas, disciplina e imprevisibilidade, analíticas e ontologias, campos e cidades, Histórias e Agoras, evoluções e rupturas. Casais que dançam e - por que não? - se completam nesta valsa do devir. Uma valsa larga, lenta, de difícil digestão. Não só in-forma, mas trans-forma. Não dá a informação, mas força o pensamento.
Não estou falando - digo logo! - de uma modalidade retórica para a escrita de nossos trabalhos, mas de um jeitinho peculiar de nos apropriarmos deles. A letra que não transforma é morta e - deixo claro - não falo de pragmatismos e funcionalidades. Todos sabem que sou teórico por demais! O que quero versar e exprimir aos senhores é que passemos a conversar com o imediato, que sejamos impressos pelas marcas da escrita, quaisquer que sejam. A idéia - com ou sem Platão - é trocar o "De que fala este material!?" para o "O que faço com este material!? O que faço DE MIM com este material!?"
As valsas, por mais dançantes que se nos apresentem, também são convidativas a tropeços e quedas... Sangremos, então...

7 comentários:

Lázaro disse...

Lindo!

Kleber disse...

Lindo, sim! Agradou-me desse modo, mas não sei como contribuiu para o fazer do João. Talvez se aprsentar noutra postagem ou aqui o fluxo do que sangrou, em mim, a coisa faça mais sentido. É que essa idéia do Platão do versar e não conversar, me intriga. Que tipo de circunstância demanda tal posição? Bom, adiante com a conversa...

J. Thiago disse...

É o mesmo olhar com que contemplo Aristóteles, considerado pai de muitas de nossas ciências empacotadas do contemporâneo: física, biologia, lógica, política, arte retórica! O estagirita respondeu todas e mais algumas problemáticas que se lhe afiguravam, embora - na pespectiva do contemporâneo - suas conclusões sejam demasiado erradas...

O que importa, aqui - em mim! - não é a resolução intelectual, mas o uso de uma lógica outra, de uma paradoxia! O revisar teórico-metodológico é o de menos no relatório, mas sim o quanto ele nos força a pensar, a ex-tasiar, a sair-de-si!

Confesso que esperava mais descrições, mais corpos, mais sabores no relatório... Conversas, anedotas e situações foram transpostas em categorias gerais - deveras! - mas, ainda assim, me fez in-tuir... Conversemos mais sobre isso, senhores! :)

Kleber disse...

Agora ficou gostoso. Valeu Thiago!

Mairla disse...

João, e o pé de feijão ;)

se deixar... o menino sai correndo, balançando os caxos no vento, pra buscar o tesouro que mora nas nuvens.

acho que é assim dos achados do jãozinho. sai frenético em busca das coisas ou jogando no chão pra não se perder. e no final das contas se perde, mas transforma de um jeito que te sirva. podia ser joão e maria também.

lindo mesmo seu texto, james.
faltou mesmo mais corpo, mais conversas pé de ouvido, mais sobre manhãs morrendo de sono, de compra de laranjas...

Juaum disse...

Comentário sobre o texto: Penso, tento ao menos, não como valsa... mas um jazzinho safado, disrítmico... onde figuram ímpares em lugar dos pares, onde quedas e tropeços são considerados no processo e não erros.

Comentário sobre o comentário: Se aconteceu uma intuição sobre as descrições, corpos, sabores, conversas, anedotas e situações consegui produzir algo que queria. digo, pois foi proposital a omissão de coisas, quis ressaltar os limites do/pelo controle e apontar para a possibilidade inventiva. e acho que é por aí que quero caminhar nesta segunda perna da pesquisa.

J. Thiago disse...

:D