quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Sobre e numa feira

Onde, quando e como surgem as feiras? Mais ainda, como ela faz para sobreviver quando um movimento contrário e – aparentemente – muito mais forte age para tolher sua vivacidade? O que de tão poderoso está imerso no burburinho desvairado, supostamente desorganizado e (assim o querem) imundo dos mundos que compõem as feiras livres? Eis, de minha parte, aquilo que salta do texto-relatório “Feiras-livres, higiene e modos de invenção de si”.

Como fazer para responder a tais questões, a não ser indo ver, ouvir, tocar, sentir a feira? Foi o que fez a intrépida trupe de desvairados debutantes de pesquisadores. E, como já me fiz acreditar e valorizar há algum tempo, eles parecem ter descoberto muito mais interrogações e incertezas do que propriamente respostas. Ótimo exercício esse de sentir-se deslocado ou de estranhar e ser estranhado... Nele (no não saber o que fazer) descobrimos que a resposta a uma pergunta pode ser tantas outras.

Preciosos achados aparecem como o produto desses (des) encontros. E não falo dos sabores de queijos e biritas experimentadas – aliás, senti falta deles no relatório. Antes assim, falo dos dissabores: do lixo no chão que causa espanto, da faca “limpa” no pano sujo, da fedentina do banheiro químico. Mas também das conversas, do reconhecimento, da intimidade e das dinâmicas que movem a feira ou, paradoxalmente, daquelas que desejam paralisá-las – que diga a associação de feirantes!

Mas, o que seria a feira? Bom, o texto de Mairla aponta para a descrição dela como o lugar de encontro e resistência entre o novo e o antigo (o moderno e o medieval). É engraçado porque, enquanto escrevo isso ouço um sambinha intitulado “Coisa da antiga”.Um tempo em que palavra valia mais que milhão, em que liberdade era algo que se entendia e existia, é o que diz a canção. Eis a feira: coisa da antiga.

Mas, reconheçamos, nem todos têm a visão tão nostalgicamente bela do velho. É que hoje prefere muito mais o novo, sem saudosismo ou qualquer lembrança do que já foi, sob o risco de descobrirmos que esse novo não pode necessariamente significar progresso. A despeito disso, a feira resiste lá, com sua miscelânea de cheiros, sons e cores. E nessa profusão imergiram os tais pesquisadores, de maneira que não mais podem ser encontrados separados dela.

Firmaram raízes e disso resta-lhes tentar extrair dela o sumo que faz pulsar sua vida. Mergulhar ainda mais fundo no agora não tão desconhecido, mas ainda encantador e, por vezes, sufocante mar de gentes denominado Feira Livre do Castelo Branco. O relato da menina Protazio dá mostras de ser esse o percurso, vamos aguardar os próximos capítulos.

3 comentários:

Kleber disse...

Linda também a sua postagem Lázaro! O que será que Menina Protázio dirá das suas pontuações e expectativas? Estou curioso.

Mairla disse...

Poxa! muito bonito... =)
Confesso que fui pega de surpresa. fiquei sabendo hoje dessa nossa atividade e vim ver os textos.
adorei a forma que você escreveu, lázaro. e dei uma risadinha muito contente quando vc falou que lembrou do sambinha...
aaaaa, que delicia! não podia ter sido melhor. já me ganhou com isso só! hahahaha x)
sobre o se perguntar onde e como surgem as feiras... caí várias vezes nessa dúvida. ficava querendo ler sobre uma história antiga pra ver se conseguia uma possível resposta ou descobrir uma certa movimentação que fez esse burburinho brotar do chão das cidades, das pessoas da rua.
concordo que foram belos achados, inclusive o de se perder e se estranhar nesse espaço.
e acho que como você disse, e james também sobre o relatório de jãozinho, ficou faltando falar mais das experiências, das conversas, dos desencontros...
e... sabe, depois de feito o relatório a vontade é mesmo de se jogar mais ainda nisso. o lugar já não é mesmo desconhecido. como você mesmo disse "já se firmaram raízes". podia-se muito bem o encatamento passar, mas não! aumenta. a vontade é mesmo de ser mais ali na feira, ser mais com ela, fazer dela nossa de verdade.

menina protázio, né? gostei! :)

Mairla disse...

olha o que achei:
http://www.youtube.com/watch?v=ji-_sRKylhA

não podia deixar de ter né? :)

vambôra essa sambinha na voz da linda clara nunes.