sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Diário de campo - 19/11/2008

i.) Cheguei ao local dos encontros das quartas por volta das 15:30. Já de longe percebi uma movimentação diferente. Vi que os idosos estavam do lado de fora do prédio, e orientados pelo estudante de educação física formavam um grande fila, encabeçados por Dona Zefa. Ali estavam, além dela, os idosos que freqüentam com assiduidade os encontros semanais no Lions Club Serigy. Tratava-se de um ensaio da apresentação que Marcos Monteiro tanto tem alardado.
Por falar nisso, o grande dragão estavam (bem?!) acompanhado: além de sua esposa, também a cunhada e o esposo dela também participaram do ensaio, cada um com um intrumento musical. Figuras estranhas, assim como o Marcos...
Bom, outra novidade que a mim se apresentou foi a presença de idosos que nunca tínhamos visto às terças. Por volta de quinze pessoas estavam lá, mas permaneceram sentados durante a maior parte do tempo.Liguei essa postura a dois motivos. Num primeiro momento acreditei que porque se tratava de um ensaio e como muitos daqueles não sabia o que se passava, seria difícil para eles acompanharem as atividades. Depois acabei descobrindo não se tratar exatamente disso. Daqui a pouco retornaremos nesse ponto.

ii.) Como eu também não podia participar das atividades de dança, resolvi sentar e assistir. Ao meu lado estava uma idosa de 58 anos que havia faltado às ultimas quatro reuniões em virtude de uma artrose no joelho direito. Segundo ela me disse, apesar de ainda sentir dores, “não agüentava mais ficar sem vir”. Perguntei o porquê. “Ela me disse que achava as reuniões divertidas, que ia para elas para rir. Por que é engraçado ver um monte de velhos fazendo essas coisas.” Depois de falarmos sobre os benefícios dos analgésicos, da natação e do repouso pra inflamações nas articulações, voltamos a falar sobre as reuniões. Perguntei a ela o que os filhos achavam de ela sair com o joelho doente para uma reunião. Ela me disse que eles riem dela, mas que apóiam. “Eles dizem que é melhor do que ficar em casa sem fazer nada. E se eles viessem ia ver que é engraçado mesmo!”

iii.) Não sei exatamente como, mas quando dei por mim estava sentado ao lado das idosas que nunca tinha visto antes nas reuniões. Resolvi falar com uma delas. Ela se chamava Dona Zete e estava pela primeira vez no grupo. Ela me disse que participava das reuniões há muito tempo atrás (antes da era Marcos Monteiro), ainda no centro paroquial, mas que por causa da saúde debilitada havia se afastado. Apesar de conhecer muitos dos idosos ali presentes, d. Zete estava um pouco assustada porque as reuniões que freqüentava antigamente eram bem diferentes. Ao invés de dançarem e se exercitarem, as pessoas iam aprender a bordar, costurar, fazer crochê. E também não tinha tanta gente velha, eram muito mais novas.” Dona Zete não soube me dizer se ficaria mais à vontade numa reunião com pessoas mais jovens ou com idosas, mas gostaria que ainda existissem as oficinas.
Dona Zete também me contou de suas experiências em outros grupos. Já fez, por exemplo, natação e ginástica noutros projetos desenvolvidos pela Universidade. “E agora voltou pra o grupo?”, lhe perguntei. Depois de um pois é, ela me disse que estava lá para ver como era que funcionavam as reuniões, também iria ao Lions, mas ainda não sabia como chegar lá. Disse-me também que era melhor estar freqüentando as reuniões do que estar em casa: “pra quê ficar perdendo tempo pensando nos problemas, se isso não vai resolver nada?”, foi o que me disse. Mas dona Zete não veio sozinha, ao seu lado estava sua vizinha e amiga, dona Gildete.
Dona Gildete, sorriso aberto e conversa solta. Num certo momento da conversava com dona Zete começamos a falar sobre a interferência dos filhos e a amiga foi instada a participar. Gildete tem “quase 60”, é viúva há dezoito anos e mora com um filho de 35 anos. Segundo ela, ele não interfere mais na vida dela. Ainda está “amarrado à barra da saia, mas não se intromete mais”. Segundo ela, depois de ter mostrado a ele que nessa altura da vida a única coisa que se pode fazer é brincar, ele se resignou (“já perdi minha juventude, então tenho que aproveitar o que resta”, disse ela).
Como tem “quase 60” dona Gildete disse que estar ansiosa para completar 60 anos logo. Pois com essa idade ela pode andar gratuitamente no transporte público e poderá, finalmente, freqüentar os bailes da terceira idade que acontecem de domingo a domingo em Aracaju: “Quando trocar a carteirinha, aí não vai prestar não!” E, para me provar que não estava mentindo, ela listou, disse o horário de início e término e onde ocorriam cada um dos principais bailes!
Sua única queixa é o fato de haver muito mais velho do que novos freqüentando esse tipo de festa. “velhos”, leia-se homens mais velhos. Por isso, pelo menos no melhor dos bailes que freqüenta (nos domingos à noite), dona gildete só chega depois das seis da tarde. A festa começas às quatro, mas só depois das seis é que começam a chegar os coroas, até aí a maioria é de idosos que vão para casa porque tem que dormir cedo.
Não pude deixar de perguntar se ela costumava namorar nesses encontros. Depois de um sorrizinho malicioso ela acenou positivamente com a cabeça. Então, com ar de surpreso, lhe perguntei como era isso, de namorar nessa idade e como era que acontecia. Ela me disse que era “normal”, mas que deixava claro que não queria se envolver profundamente com ninguém. Ainda meio sem saber o que dizer, repeti a pergunta. Ela, então, resolveu me explicar com um exemplo.
Falou-me de um passeio a que ela tinha ido na semana anterior. Disse que lá havia encontrado um senhor e se interessado por ele. Ressaltou que gostou da idéia de ele ser de outra cidade, “assim nunca mais a gente volta a se encontrar!”. Depois de um certo tempo de paquera, os dois resolveram aproveitar o passeio juntos. Ainda não sabia o que lhe perguntar, estava meio assustado de encontrar e soltei um “e deu para aproveitar?” Vi novamente aquele sorrisinho de canto de boca. Dona Gildete olhou para mim e disse: “a gente tinha o dia inteiro...” Dizer mais o quê?

4 comentários:

Juaum disse...

Lazaro, seu relato me afetou... lembro da sua cara quando tava saindo lá da reunião indo pra casa "pra escrever, tenho que escrever"...
sabia que viria algo assim.
muito bonito o encontro.
agora fiquei curioso para saber sobre o que mudou.... ou o que você acha que mudou.
um abraço.

J. Thiago disse...

Nota mental: "investir nos híbridos..."

Lázaro disse...

Tô tentando fazer meu relatorio partindo dessa pergunta juaum. Qnd comecei isso acreditava que tinha perguntas e queria achar respostas. Agora, o sentimento de nao saber o que perguntar me fascina... Não é preciso mais respostas. Encontrar-se é preciso.

Juaum disse...

... e do encontro o invento(ar-se).