quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Olhai os lírios do campo...

Curioso ler o texto anterior, da Bruna. Senti-me numa sincronicidade, à velha moda junguiana. Isto porque, assim como nossa colega, passei a enxergar os lírios do campo de pesquisa. Antes de entrar neste detalhe, coloco em crônica minhas experiências.

Fui andando, temperado sob o sol, mais uma vez. O "Era Uma Vez" de todo personagem começa, de facto, com uma andança. E, nessa destemperança encontrei, no meio do caminho, algo muito maior - e melhor! - do que pedras. Dois lindos senhores - um casal, em verdade - estavam sentados na calçada, seguros da fúria dantesca e sustenida de um Sol Maior. Reconheci, parei, sentei, conversei e conjurei mais alguns verbos em companhia deles. Falamos sobre istos, aquilos e um pouco mais.

Uma frase acertou-me, certeira, como o arqueiro inspirado por Kairós. Enquanto caminhávamos, percebi que a senhora me percebeu um pouco mais ágil do que ela e seu companheiro de pernas. Disse que "velho anda devagar, que é pra esperar outros velhos". Senti-me indigesto com aquela seta carregada de movimentos e intensidades. Enquanto eu voava, ambos continuaram a caminhar e a trilhar uma nova estrada. Começaram a falar de comida.

O Senhor pronuncia: "Eu não como peixe com escama, caranguejo, pitu..." Daí, a Senhora o interrompe: "Você não come peixe carregado, é!?" Ele finaliza: "Carregado, não! Só comprado, mesmo!" Nós três, após segundos eternos de silêncio, nos pusemos a rir. Não a gargalhada do bufão, mas o sorriso do menestrel. Riso interno, só nosso! Só meu e de meus velhos amigos!

Chegamos na arena e, como de costume, Monteiro já havia chegado. Aconchegamo-nos - os três - em lugares distintos, e procedeu-se os rituais costumeiros. Minto! Marcos parecia um pouco mais tranqüilo do que a sua essência - a nós revelada - permitia. A reunião transcorreu divertida. Peso leve e jugo suave. Curiosa, no entanto, foi a minha visada de consciência sobre duas senhoras que, enquanto todos explodiam em festividade, implodiam em sorumbatismos. Cabeças baixas que me fizeram levantar a visão para um plano de contemplação outro, tentando imaginar que metafísica as tirava daquele lugar e em que outro lugar ela as colocava.

Uma outra flor que colhi exalou miríficos odores. Falo da pequeníssima Dona Joana que, durante o encontro, lançou duas pérolas-aos-porcos. Eis a primeira, quando a abracei e elogiei seu perfume. Ela devolveu: "Velho tem que ser cheiroso. Velho e Rabugento não dá, né!?". A segunda foi quando, numa conversa-cochicho com outras senhoras, ela declama: "Não somos velhos, não! Velha é a estrada!"

Depois de transcorrida a reunião, Marcos se retira para a sua aula, no Campus, e abandona o campo. Ficamos uns minutinhos a mais, para apresentar nossa nova companheira de campanha e ver se colhíamos mais algumas rosas, com ou sem espinhos. Começa a se organizar um bingo, mas abandonamos o local - infelizmente - antes que ele frutificasse.

A flor mais bela que colhi nesta reunião foi perceber que o gramado não possui cercas. Antes - confesso - fazia reflexões sobre o que os idosos faziam na reunião, o que pensavam na reunião, o que falavam na reunião. Enfim, ao menos eu, fazia, pensava e falava sobre reuniões, não sobre idosos. Falava sobre lugares, danças e poemas, mas não encarava as caminhadas, as quedas e as poesias. Poesia de mim. Não quero mais colocar cercas nos meus jardins. Não mais. Olhai os lírios do campo, homens. Olhai os lírios do campo...

4 comentários:

Aurea disse...

Q bom q agora seu o foco passou a ser os idosos, já que são eles o motivo de enfrentarmos tantos dragões, leoas, além do sol escaldante.
Teve uma cena que ficou em minha mente, e que me "incomodou", em um certo momento estávamos ensaiando, quando derrepente olhei para baixo, e me deparei com 2 pés, um pequeno, que se balançava de um lado para o outro, sem nenhum pudor, sem nenhum limite, do outro lado, um pé inchado, pesado, parado, esta era dona Francisca, aquela era uma menina, que deveria ser neta de alguns dos idosos. Fiquei pensando por que essas difernças corporais marcam tanto, nossa forma de relacionamento, tratamento, de vivência. Duas pessoas, porém dois "indivíduos", com suas díspares "criações".
Ontem encontrei com Marcus, ele me disse que nas férias só vai ficar na UFS nas quartas. Visto que, seu objetivo é qd voltarem às aulas do Lions, nós da "Psicologia" ficarmos lá nas terças, e ele ficar na UFS nas quartas e sextas. Eu perguntei se os idosos viriam 2 dias, e ele como sempre modesto disse: "claro que vem, ali é boca de forno, forno... forno..."
Disse ainda que possui umas fotos de nós dançando, eu falei qeu queria vê-las, ele pediu meu e-mail pra mandar, completando disse que essas fotos eram um aprova de qeu nós estamos lá. por fim, disse ter um vídeo de kleber falando, e perguntou se queria que ele também mandasse pro meu e-mail, eu pedi que sim, e ele saiu andando e falando: "vídeo é caro".

J. Thiago disse...

Em verdade, eu não mudei o foco de observação, Áurea! Quem mudou foi o observador, mesmo... :)

Mairla disse...

video é caro?

o homem já quer vender o trço, menina! é mole? kkkkkkk

Juaum disse...

outreamentos...