terça-feira, 18 de novembro de 2008

pra que meu nome?

Como a feira começa dentro de casa, começarei daí percorrendo todo meu caminho. Saí vasculhando tudo pra ver o que faltava em casa e notei que a feira tinha sido feita no dia anterior. Nada para comprar, então! Pelo menos de necessário. Pelo caminho fui imaginando o que poderia comprar, percorrendo a Francisco Porto, Saneamento, Rio de Janeiro, por fim Castelo Branco, chego ao meu destino, hoje de carona, com a idéia de comprar folha de hortelã. Pronto! Ótima idéia, nada melhor do que uma combinação com suco de abacaxi.

Desço pelo lado da caixa d’água às sete e quarenta e cinco da manhã, mais tarde do que o costume. Ando devagar, notando o movimento intenso de carro, guardador-de-carro, carrinho-de-mão e gente passando. Caminho em direção à praça e sento no banco de sempre. Eu realmente fico fascinada com a habilidade que os vendedores de carne têm com a faca. Fico vidrada olhando os cortes que fazem e a rapidez que é! Chama mais minha atenção a mulher que dentre os homens se destaca por ser mulher-macho-sim-sinhô. Engraçado como ela é bruta! O homem, também vendedor de carne, da banca ao lado vinha todo cheio de graça pra cima dela e ela nem aí pra ele. Mandava embora e saia toda machão. O rapaz saia rindo desconfiado e trocando olhares com o moreno da banca do lado esquerdo. E ela sustentando a pose! Senta no balde d’água azul, apóia a perna na banca e pega o celular, toda séria, sempre!

Em meio aos gritos incessantes e repetidos a cada 2 minutos de “tomate a 1 real, 1 real”, passa uma galega que faz o outro do lado de cá, o moreno, parar de fazer o que fazia e gritar: “Êta galeguinha linda, meu deus! Olhe...(pausa) sou apaixonado por você viu?”. Não me agüento e começo a rir sozinha.

Já meio enjoada de ficar só, penso em ir pra casa, mas sem antes de dar uma volta por toda feira. Quando menos espero, encontro João que acabara de chegar. Resolvemos dá uma volta juntos. Conversa vai e vem, entramos num consenso de que é melhor irmos juntos, de dois em dois, para o tédio não bater. A feira com mais alguém passa a ser divertida. Pelo caminho vamos dando risadas das pessoas, principalmente da vendedora de sacolas que nos oferece a venda duas vezes! Seguimos ela por um momento, mas depois a perdemos de vista quando paramos pra comprar as folhas de hortelã.

Encontros e desencontros, aparece Kleber com a senhora sua mãe. Que faz o favor de nos apresentar como “uns alunos aí que estão trabalhando aqui na feira”. Apresentação que foi repetida por João como comentário, porque por mim teria passado que nem notaria. Mas enfim, saímos andando e proponho ir dar uma olhada nos banheiros. Fomos andando por fora da feira, pela avenida, até chegar na praça. Lá não tenho nem coragem de chegar perto pra sentir o cheiro enquanto João briga com uma das portas tentando abrir. Nisso aparece um doidão todo cheiroso à planta natural reclamando do banheiro. Dizendo que é uma falta de respeito, mesmo ele não precisando porque caga em casa. Nos pergunta se somos da vigilância sanitária e diz que o banheiro vive ocupado, de merda! E que pra entrar, “os caras” só vão com cigarro ou um baseado pra agüentar o cheiro...

Surge mais um e reclama também e um senhor sai cambaleando do banheiro que João brigava tentando abrir. “Tava aí era meu velho? Como é que agüentou, ein?” – diz rindo o doidão que apareceu primeiro. João estava mais inteirado com o cara, perguntando, fazendo comentários e respondendo ao que ele perguntava. Já eu tava meio de retaguarda só olhando o movimento dos outros atrás que estavam conversando. Nos despedimos e João pergunta o nome dele:
- Pra que meu nome? Nome é retrato, minha palavra é de vez.
- Tá, meu nome é João – cumprimentando com as mãos.
- Fábio, diz ele. João Carlos?
- Não, não, só João mesmo.
- João de Deus, então!

Saímos rindo e bestas com a frase que o cara disse. Não esquece não, viu? E repetimos umas duas vezes pra ficar guardada na memória.
Em direção à sorveteria, vamos ao encontro de Finha e Nininha. Finha comenta que pensara que eu tinha parado de ir à feira porque por duas sextas não aparecia. Toda simpática vem com a coca-cola, pão e queijo pra gente comer. Se senta próximo a nós, na calçada da sorveteria, enquanto Nininha, que é toda agoniada, fica pra lá e pra cá atendendo os fregueses dela e os da Finha, enquanto essa come uma empada reclamando do recheio.

Em meio a nossa distração e conversa, aparece um senhor com dois pedaços de cana na mão e um livro debaixo do braço gritando qualquer coisa de que a cana era dura e a cana era mole. Rimos e o homem fala: Ta vendo isso aqui? Só eu tenho! Só vendo por 100 reais. Se o cabra me oferecer 99 eu num dou, só vendo por 100!

Esse senhor tinha apostado uma cachaça com um outro lá no bar de que um jogador fazia ou não parte da delegação do Brasil em algum ano. Ele foi a casa buscar o livro pra provar com foto e tudo que o cara era sim e que ganhara a aposta. Nisso o cara já estava sentado do nosso lado contando toda a história, mostrando as fotos com Pelé e como tinha sido aquela copa, que nem eu nem o João éramos nascidos. O homem sai todo agoniado puxando o livro das mãos de João dizendo que vai ao bar que tem logo ali. Se despede e sai todo apressado.

Bom, hora de irmos também. Damos uma última volta por toda a feira e nos despedimos de onde saímos. Vou ao ponto de ônibus e João ao carro.

Circular indústria e comércio é quem me faz chegar em casa novamente, com sacola de hortelã e ameixas na mão.

3 comentários:

Mairla disse...

relato do dia 14/11/2008
=)

Aurea disse...

Eu fico contagiada com a espontaneidade das pessaos na feira, ninguém se conhece além feira, mas ao mesmo tempo são todos íntimos.
Abraço!

Juaum disse...

trecho do meu diário:

Na referida manhã quente do início, andava sem intenções pelos corredores da feira entre facas, carnes, legumes, verduras, cães, cheiros, lixo, gentes e gentes, quando saí em busca dos banheiros químicos públicos situados a uma quadra da feira. Lá o cheiro forte chegava a ser “ensurdecedor”, tentei abrir uma das três portas, não consegui. Então um rapaz negro, sem camisa e de mãos grossas chega para me dar uma ajuda. Diz: Não entre aí não rapaz, esses banheiros são tudo emporcalhado, tudo uma nojeira, pra entrar aí só bêbado ou fumado. Digo: Mas e você quando quer dar uma mijada? Como faz? Diz: Eu uso o de lá de casa moro aqui perto, sabe? Então ele abre uma das portas e me apresenta a uma grande merda amarelada, contrastando com o verde grama do Box, que se espalhava por parte das paredes e do chão, sua imagem e cheiro eram extremamente desagradáveis tanto a mim quando ao rapaz, fechou a porta. Ele diz: Você é da vigilância sanitária? Alguém ta precisando vim ver isso aqui, é uma falta de respeito com os moradores e com o pessoal da feira. Digo: Não sou da vigilância não, tou fazendo uma pesquisa pra universidade, mas então, mesmo assim tem gente que usa esses banheiros? Diz: Claro que tem... gente que dorme aí, gente que entra aí pra fumar um baseado, pra tomar cachaça. Ao fundo, alguns metros de distância, seu grupo de amigos continuava bebendo e rindo da situação. Esse é um detalhe importante, o meu interlocutor estava com um cheiro forte de álcool naquela manhã. Então digo: Come é seu nome? Com olhar desconfiado ele diz: Pra que você quer saber meu nome? Digo: Pois... pra não ficar te chamando de moço ou de ei. Diz: Nome é retrato, minha palavra é de vez. Digo meio atordoado: Bom, meu nome é João. Diz rindo: João Carlos? Digo: Não, só João. Então ele diz se afastando em direção aos amigos: Então é João de Deus! João de Deus! Afasto-me tentando memorizar suas frases e apreender o acontecimento ainda zonzo, bêbado de campo, o pesquisador bêbado. É preciso atentar para a potência da ebriedade.